Milhares de pessoas continuam nesta segunda-feira, 15, acampadas na frente do quartel-general de Cartum, no Sudão, em protesto contra o golpe militar que depôs o ditador Omar Bachir.
“Pedimos ao conselho militar que ceda imediatamente o poder a um governo civil”, afirmou a Associação de Profissionais Sudaneses (SPA), que também pediu ao “governo de transição e às Forças Armadas que levem Bashir à justiça”.
A SPA também exigiu o julgamento das pessoas que cometeram o golpe de Estado de 1989, que levou Bashir ao poder ao derrubar um governo democraticamente eleito.
No quartel de Cartum, os manifestantes pedem que os militares atuem em favor da população, aos gritos de “Liberdade” e “Revolução”.
Na quinta-feira 11, após três décadas no poder, o ditador de 75 anos foi removido da Presidência e preso pelas autoridades militares.
Em um pronunciamento televisionado, o ministro da Defesa, Awad Ibn Ouf, afirmou que as Forças Armadas supervisionarão o período de transição de dois anos. Ele também anunciou o início de um estado de emergência de três meses.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia acusa Bashir por genocídio e crimes contra a humanidade por seu papel no conflito na região sudanesa de Darfur, alegações que ele rejeita.
O presidente interino do partido de Bashir (Partido do Congresso Nacional), Ahmed Harun, está sendo investigado pelas mesmas acusações.
Pressão internacional
Estados Unidos, Reino Unido e Noruega pedem aos militares e às outras partes civis que dialoguem sobre a transição para um poder civil.
Em um comunicado conjunto de suas embaixadas no domingo, os três países pediram que não se recorra à violência para acabar com os protestos e estimaram que “a mudança legítima” demandada pelos sudaneses não aconteceu.
“É hora de o conselho militar de transição e todas as outras partes manterem um diálogo inclusivo para realizar uma transição para um governo civil”, afirmaram.
“Isso deve ser feito de maneira crível e rápida, com os líderes do protesto, a oposição política, as organizações da sociedade civil e todos os elementos relevantes da sociedade, incluindo as mulheres”, acrescentou.
No sábado, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, preocupados com os acontecimentos no país, expressaram seu apoio “ao povo sudanês irmão” e à junta militar de transição.
No mesmo dia, o chefe da junta militar, o general Abdel Fatah Burhan, se “comprometeu a instaurar um governo completamente civil e o papel do conselho militar será o de manter a soberania do país”, lembrou o Exército.
Burhan se comprometeu a instaurar um sistema judicial independente e a criar um entorno propício para uma “transição pacífica do poder”.
O novo homem forte do Sudão prestou juramento como presidente da junta apenas 24 horas no poder, um dia depois de derrubar Bashir.
O Sudão é palco de protestos contra o governo há meses. Bashir vinha sendo pressionado por manifestações em todo o país desde dezembro.
Os protestos começaram pela decisão do governo de triplicar o preço do pão em um país mergulhado na crise econômica. Rapidamente, os atos se transformaram em um movimento contra o ditador e, após o golpe, passaram a atacar a junta militar que assumiu o poder.
(Com AFP)