‘Manual’ do Hamas detalha estratégia de combate nos túneis de Gaza, diz NYT
Documento contém instruções sobre como operar na escuridão da rede subterrânea e se defender de possíveis ataques israelenses
Um manual de combate do Hamas, apreendido pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), descreve detalhadamente a estratégia de batalha do grupo terrorista palestino nos túneis sob Gaza, informou o jornal americano The New York Times nesta terça-feira, 3.
O documento de 2019 detalha como os combatentes devem operar na escuridão do subterrâneo e disparar armas automáticas em espaços confinados. Ele também contém orientações sobre como esconder as entradas dos túneis, utilizar bússolas ou GPS para se localizar e como os militantes devem se mover no interior dos túneis.
“Ao se mover no escuro, dentro do túnel, o caça (combatente) precisa de óculos de visão noturna equipados com luz infravermelha”, diz o documento, escrito em árabe. Outro trecho do manual descreve como os combatentes devem disparar suas armas na altura do ombro quando estiverem sob o solo: “Esse tipo de tiro é eficaz porque o túnel é estreito, então os tiros são direcionados às ‘zonas de morte’, na parte superior do corpo humano.”
A estratégia inclui o uso de cronômetros para medir, com precisão de segundos, o tempo necessário para deslocamentos entre diferentes pontos na rede subterrânea. Essa preparação demonstra o esforço do Hamas para construir uma estrutura militar capaz de resistir a ataques prolongados e impedir o avanço das forças terrestres israelenses dentro dos túneis.
Os documentos, encontrados por membros do exército israelense no distrito de Zeitoun, na Cidade de Gaza, em novembro do ano passado, foram disponibilizados ao New York Times por autoridades militares israelenses.
Rede de túneis
A rede de túneis sob Gaza, apelidada de “metrô do Hamas”, foi construída ao longo de anos pelos líderes do grupo terrorista palestino. Segundo as FDI, os túneis funcionam como uma verdadeira cidade subterrânea, permitindo a transferência de foguetes e outras armas para diversos pontos do enclave.
Sob o solo, também foram localizados bunkers, centros de comando, áreas de convivência e infraestrutura elétrica. Estima-se que a construção de um túnel com meio quilômetro de extensão custe cerca de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,8 milhões, na cotação atual).
Em 2022, apenas um ano antes do ataque de 7 de outubro à Israel, o líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, aprovou um investimento de US$ 225 mil (cerca de R$ 1,2 milhão) para instalar portas de segurança nos túneis, protegendo-os de possíveis ataques aéreos e terrestres. Os registros indicam que os comandantes do Hamas identificaram pontos críticos que precisavam de fortificação tanto no subsolo quanto na superfície de Gaza.
Estratégia contra Israel
Especialistas afirmam que, sem os túneis, o Hamas teria poucas chances contra o exército israelense.
Embora Tel Aviv já soubesse da existência de uma extensa rede subterrânea em Gaza, o documento provou que ela é muito maior do que elas imaginavam. No início da guerra, autoridades estimavam que os túneis se estendiam por cerca de 400 quilômetros, mas agora acreditam que eles tenham até o dobro deste tamanho.
Soldados israelenses continuam descobrindo novas estruturas durante as operações militares em Gaza. No domingo, os militares recuperaram em um túnel os corpos de seis reféns, poucas horas depois de serem mortos por tiros “à queima roupa”, segundo Israel. As vítimas pertenciam ao grupo de 250 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro, quando começou a guerra, que já dura quase 11 meses.