O medo de desabastecimento de produtos e alimentos paira sobre a população do Líbano após a explosão no porto da capital Beirute que deixou mais de 130 mortos na terça-feira 4. A detonação destruiu o principal silo de armazenamento de grãos. O porto da capital libanesa era responsável por receber 60% das importações do país, e o preço de sua reconstrução é estimado em até 5 bilhões de dólares.
No porto também fica o maior elevador de grãos da cidade, além de importantes estruturas. Trata-se de uma torre contendo um elevador de caçamba, que recolhe os grãos e os despeja em um silo ou outra forma de depósito. A instalação foi seriamente danificada.
Os silos também têm grande importância para o país, já que armazenam cerca de 85% dos cereais do país, segundo a emissora britânica BBC. Eles têm capacidade total para estocagem de 120.000 toneladas de grãos.
O trigo é responsável por mais de 80% das importações agrícolas do Líbano, seguido por milho e cevada. A maior parte do trigo entra no país pelo porto que foi atingido. Sendo assim, cresceram os temores de insegurança alimentar generalizada.
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Clique e Assine‘Não há crise’
Apesar da devastação no porto, causada pelas 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas de forma irregular, o governo libanês disse que o porto de Tripoli receberá os navios e que não há o risco de desabastecimento.
O ministro da Economia, Raoul Nehme, disse que não há o risco de desabastecimento. “Não há crise de pão ou farinha”, disse. “Nós temos estoques suficientes e barcos a caminho para cobrir as necessidades do Líbano no longo prazo”.
Nehme afirmou que as reservas de grãos nos silos restantes do Líbano são suficientes para “pouco menos de um mês”, mas disse que o silo destruído continha apenas 15.000 toneladas de grãos. O silo tem capacidade para 120.000 toneladas.
Acredita-se que os silos não continham grandes quantidades de grãos no momento da explosão, já que o país tentava suprir a falta de pão que surgiu recentemente devido à atual crise financeira.
Ahmed Tamer, diretor do porto de Trípoli, a segunda maior instalação do Líbano, disse que seu porto não possui armazenamento para grãos, mas as cargas podem ser levadas para armazéns a 2 km de distância. No momento, o país tenta transferir quatro navios que transportam 25.000 toneladas de farinha, disse um representante do governo a emissora LBCI.
“Tememos que haja um enorme problema na cadeia de suprimento, a menos que haja um consenso internacional para nos salvar”, afirmou Hani Bohsali, chefe de um sindicato de importadores.
Inflação e pobreza
Mesmo com a promessa de que os alimentos não sofrerão escassez, a perda do porto e a devastação da cidade tendem a elevar a inflação e a pobreza no país. Segundo dados do governo, a inflação nos preços de alimentos fechou, em junho, num total de 247%.
Agências humanitárias da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram na quarta-feira 5 para coordenar esforços de socorro a Beirute, disse Tamara al-Rifai, porta-voz da agência palestina de refugiados UNRWA.
“As pessoas são extremamente pobres, é cada vez mais difícil para qualquer um comprar comida e o fato de Beirute ser o maior porto do Líbano torna a situação muito ruim”, disse ela. “Estamos olhando para Trípoli, mas é um porto muito menor”.
As reservas de farinha eram suficientes para cobrir as necessidades do mercado por um mês e meio e havia quatro navios transportando 28.000 toneladas de trigo em direção ao Líbano, disse Ahmed Hattit, chefe do sindicato dos importadores de trigo, ao jornal Al-Akhbar.
Impacto político
Formado em janeiro de 2020, o governo do primeiro-ministro Hassan Diab, apresentado como um gabinete de tecnocratas, é acusado por seus críticos de estar sujeito ao Partido Corrente Patriótica Livre, cujo presidente é Michel Aoun, e a seu aliado, o Hezbollah.
O governo, que demora a implementar as reformas econômicas recomendadas pela comunidade internacional e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para tirar o país da crise, é questionado pela população. O ministro das Relações Exteriores, Nassif Hitti, renunciou ao cargo e acusou o governo de “falta de vontade real” para iniciar as reformas.
O desgaste do governo recém formado não fica somente nas esferas do poder. “A pandemia deu uma folga à classe política”, estima o cientista político Karim Emile Bitar.
Diab chegou ao poder após a renúncia de seu antecessor, Saad Hariri, durante os protestos populares que eclodiram em 17 de outubro de 2019. O movimento perdeu força, devido à pandemia de Covid-19 e ao cansaço da população, pressionada pela degradação brutal de suas condições de vida.
(Com Reuters e AFP)