Memória: os nomes que ajudaram a reinventar o mundo
Donald Rumsfeld foi um dos grandes políticos que se despediram em 2021
Donald Rumsfeld
Político e diplomata
Secretário de Defesa de dois presidentes republicanos, Gerald Ford (de 1975 a 1977) e George W. Bush (de 2001 a 2006), Donald Rumsfeld foi o mais influente servidor público dos Estados Unidos desde Robert McNamara, que começou nos anos Kennedy e durou até depois da Guerra do Vietnã. Rumsfeld foi a liderança estratégica nos conflitos no Afeganistão e no Iraque. Debaixo de seu guarda-chuva, as Forças dos EUA rapidamente derrubaram o presidente iraquiano Saddam Hussein, mas não conseguiram manter a lei e a ordem depois disso, e o Iraque caiu no caos com uma revolta sangrenta e violência entre muçulmanos sunitas e xiitas. As tropas americanas permaneceram no Iraque até 2011, muito depois de ele deixar seu posto. Morreu aos 88 anos, em Taos, no Novo México, em 29 de junho. A causa foi um mieloma múltiplo.
Colin Powell
Político e militar
“Colin Powell personificava os mais elevados ideais de guerreiro e diplomata”, disse o presidente Joe Biden. Como secretário de Estado do presidente George W. Bush, logo depois de 11 de setembro de 2001 ele pediu cautela na deflagração da chamada Guerra ao Terror — na contramão do que pensavam Bush e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld (leia acima), defensores da intervenção americana mesmo sem o apoio internacional. Teve de ceder. Apoiaria, em 2003, a invasão do Iraque. Contudo, um ano e meio depois assumiria o mais grave erro de sua vida, ao admitir que as informações de Inteligência sugerindo que Saddam Hussein tinha “armas de destruição em massa” estavam equivocadas. Fez a confissão e renunciou. Powell morreu em 18 de outubro, aos 84 anos, em Nova York.
Carlos Menem
Político
Eleito depois da renúncia de Raúl Alfonsín, o primeiro a ocupar a Casa Rosada após a ditadura militar, e que deixara o país com uma hiperinflação de 3 000% ao ano, Menem tinha uma única ideia na cabeça: consertar a economia. Nessa toada, abandonou parte das bandeiras peronistas, de permanente intervenção estatal, e adotou a cartilha liberal desenhada pelo FMI. Durante os dez anos seguintes, privatizou empresas, abriu os negócios para o exterior e impôs a paridade cambial entre o dólar e o peso, em 1 para 1. Mas seu legado foi o caos. Longe da Casa Rosada, teve de encarar, na Justiça, denúncias de corrupção e envolvimento com tráfico de armas. Morreu em 14 de fevereiro, aos 90 anos, em Buenos Aires.
Frederik Willem de Klerk
Político
Chefe de governo da África do Sul entre 1989 e 1994, último presidente branco do país, De Klerk costurou o fim do regime racista do apartheid. “É tempo de sairmos do ciclo de violências e abrirmos caminho em direção à paz e à reconciliação. A maioria silenciosa anseia por isso”, disse em discurso histórico em 2 de outubro de 1990, para emendar com pedido de desculpas. “Não era nossa intenção privar as pessoas de seus direitos e causar miséria, mas a segregação e o apartheid levaram exatamente a isso e eu o lamento profundamente.” Ele e Nelson Mandela receberam o Nobel da Paz de 1993 pelo trabalho contra o segregacionismo. Mandela seria eleito presidente em 1994. De Klerk morreu em 11 de novembro, aos 85 anos.
Príncipe Philip
Duque de Edimburgo
Nascido na ilha grega de Corfu em 1921, Philip era o sexto na linha de sucessão ao trono da Grécia quando seu tio, o rei Constantino I, e o regime monárquico foram depostos em um golpe militar. Membro de uma família real sem poder e sem terra, ele seria enviado na adolescência para estudar no Reino Unido. Aos 18 anos, em 1939, Philip se alistou na Marinha Real Britânica e foi lutar na II Guerra Mundial. Após o fim do conflito, o príncipe pediu a mão da então princesa Elizabeth ao pai dela, o rei George VI, do Reino Unido. Durante a guerra, Philip e Elizabeth, que já se conheciam desde 1934, trocaram cartas amorosas. O resto é história. Ele morreu em 9 de abril, dois meses antes de completar 100 anos.
Publicado em VEJA de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770