Mergulhados em crise, argentinos devem fazer Florianópolis perder turistas
Fluxo de visitantes vindos da Argentina pode cair entre 10% e 15%, segundo empresas de turismo da capital de Santa Catarina
A crise econômica na qual a Argentina está mergulhada, com o peso a mais de 1000 dólares e incerteza a respeito dos próximos passos do novo presidente, Javier Milei, promete abalar os indicadores de turismo deste verão na cidade de Florianópolis, no litoral sul do Brasil, acostumada a receber centenas de milhares hermanos na alta temporada.
Em relação ao mesmo período do ano passado, a capital de Santa Catarina continua a figurar entre os destinos mais procurados pelo país vizinho, mas isso deixou de se refletir em confirmações de reservas. Segundo o jornal argentino Clarín, comer em um restaurante brasileiro é de 30% a 40% mais caro que em solo argentino.
Empresas de turismo da região acreditam que o fluxo de pessoas vindas da Argentina poderá cair entre 10% e 15%.
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Destino popular
De acordo com a Secretaria de Turismo de Florianópolis, cerca de 210 mil argentinos visitaram a capital de Santa Catarina no ano passado. Mais da metade deles viajou de avião, em números que giram em torno de 130 mil.
Apesar da baixa iminente, em novembro, a ilha passou a contar com voos diretos de Buenos Aires, trajeto de duas horas de duração que agora é feito por quatro companhias aéreas diferentes.
Uma escolha comum entre os viajantes também são as viagens de carro por 1.625 km, atravessando o Uruguai por Colón-Paysandú e entrando no Brasil por Santana do Livramento. Eles esbarram, contudo, nos preços elevados do combustível do lado de cá da fronteira.
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Plano Milei
Após Milei tomar posse no domingo 10, seu ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou na terça-feira 12 um pacote de medidas fiscais para enfrentar a severa crise econômica que assola o país.
Entre elas estão a desvalorização do peso argentino frente ao dólar e o cancelamento da licitação de obras públicas que ainda não tiveram início. O pacote foi anunciado por Caputo em um vídeo gravado.
Entre as medidas anunciadas estão:
- A desvalorização do peso argentino: cada dólar vai valer 800 pesos — atualmente a cotação é de 365 pesos;
- O governo não abrirá novas licitações para obras públicas e vai cancelar as licitações de obras que ainda não tenham começado;
- A redução do número de ministérios, de 18 para 9, como já havia sido anunciado, e de secretarias, de 106 para 54;
- Redução de repasse do governo federal às províncias;
- Redução de subsídios a serviços de transporte e energia;
- Suspensão da publicidade do governo por um ano;
- Não renovação de contratos de funcionários públicos com menos de um ano.
Caputo analisou que gestões anteriores “fracassaram” no controle da inflação e defendeu que o governo de Javier Milei vai atacar a fonte do problema. “Dos últimos 123 anos, a Argentina teve um déficit fiscal em 113”, disse. “Estamos aqui para resolver a raiz do problema.”
No discurso de posse, Milei prometeu “tratamento de choque” para resolver a crise mais aguda desde 2001. A inflação, hoje em 142%, deve atingir os 200% no início do ano que vem, enquanto as taxas de juros batem os 133%.
Resta saber se ele vai cumprir as promessas radicais que foram feitas durante as eleições, como dolarizar a economia a extinguir o Banco Central do país. Depois de ter sido eleito, o político atenuou o tom, mas manteve o comprometimento com um programa de duras medidas de austeridade.