Mesmo com fronteira bloqueada, venezuelanos esperam por ajuda humanitária
Apesar da fome generalizada e escassez de produtos básicos, Maduro impede que a assistência americana entre em seu país pela Colômbia
Após as forças militares, leais ao presidente Nicolás Maduro, bloquearem a entrada de ajuda humanitária na Venezuela pela fronteira com a Colômbia, venezuelanos que sofrem com a crise econômica do país se perguntam como podem ter acesso às doações de alimentos e remédios vindas dos Estados Unidos.
Apesar da fome generalizada e escassez de produtos básicos na Venezuela, Maduro impediu que a assistência americana entrassem em seu país depois que Washington reconheceu o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino.
Na terça-feira 5, militares venezuelanos bloquearam com três caminhões a ponte de Tienditas, na fronteira entre as cidades de Ureña, na Venezuela, e de Cúcuta, na Colômbia, onde está um centro de fornecimento de ajuda.
Perto dali, soldados armados também guardam o prédio onde funciona a alfândega de Ureña, ameaçando repelir qualquer tentativa de cruzar a fronteira, segundo a imprensa local.
Ainda assim, na quarta-feira 6 muitos venezuelanos esperavam a chegada da ajuda humanitária debaixo do sol.
A poucos quilômetros de distância, centenas cruzaram a fronteira a pé pela ponte Francisco de Paula Santander, a segunda mais importante da região. Muitos voltaram de mãos vazias, mas alguns conseguiram sacolas e caixas de produtos básicos.
“Todos nós queremos ajuda humanitária porque não há nada aqui”, afirmou à emissora francesa France 24 Freddy Sayago, que cruzou a fronteira para descobrir onde ou como seria a entrega. O homem relata que as autoridades de seu país “não dizem nada” sobre a ajuda humanitária.
De acordo com o site de notícias locais Tal Cual, moradores que esperam a chegada da ajuda relataram que supostos funcionários de agências de direitos humanos recolheram nomes, endereços, números de telefone e documentos de mais de mil venezuelanos que esperavam na região fronteiriça, para cadastrá-los no serviço de distribuição das doações.
Os moradores, contudo, denunciaram que tudo não passou de uma fraude. “De repente, as pessoas dos direitos humanos desapareceram, não sabemos com que propósito eles coletaram as informações “, disse o venezuelano Juan López ao Tal Cual, afirmando que os funcionários não estavam coordenados com as autoridades colombianas nem com a Cruz Vermelha.
“Desde ontem me inscrevi em listas para receber ajuda humanitária, mas depois eles nos disseram que não funcionaria assim, estamos desesperados, nosso dinheiro é inútil em nosso país e estamos com fome”, disse Livia Vargas, de 40 anos, à agência Reuters. “Maduro pode não gostar da ajuda, mas ele deve pensar até mesmo nos chavistas que não têm nada para comer”, acrescentou.
Disputa com a oposição
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares para a Venezuela. O Canadá de 40 milhões, e a Comissão Europeia de outros 5 milhões de euros.
Líder oposicionista, Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino em 23 de janeiro. Ele prometeu que os alimentos e medicamentos começarão a chegar à Venezuela, apesar das objeções de Maduro e criticou a postura “absurda de um governo que não se interessa pelo bem-estar dos venezuelanos”.
Maduro e o Tribunal Supremo de Justiça recusam a ajuda, afirmando que não existe uma situação de emergência na Venezuela. Ambos dizem ainda que a iniciativa dos deputados opositores de admitir ajuda internacional vai contra a Constituição.
Entidades de ajuda humanitária, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, pediram nesta quarta que a entrega de alimentos e remédios não seja politizada pelos envolvidos na crise.
Ao se referir ao bloqueio da ponte, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, exigiu pelo Twitter que Maduro deixe entrar a ajuda que “o povo venezuelano precisa desesperadamente”.
Estados Unidos, Colômbia e Brasil tem discutido nos últimos dias uma forma de enviar as doações para os venezuelanos, apesar do bloqueio de Maduro.
Nesta quarta, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para estudar a questão.
Segundo Araújo, o Itamaraty está trabalhando com outros ministérios do governo do presidente Jair Bolsonaro para preparar o meio mais adequado de fazer chegar a ajuda humanitária à Venezuela. Mas, até o momento, o mesmo Itamaraty não tem clareza sobre o tipo de ajuda a mais adequado nem sobre como e quando entregá-la.
Guaidó convocou para uma mobilização em 12 de fevereiro e a outra em data a definir para exigir aos militares, sustentação de Maduro, que abram um caminho para a ajuda, inicialmente para os “300.000 venezuelanos a ponto de perder a vida”.
Na pior crise de sua história moderna, a Venezuela sofre com escassez de 85% de remédios e de alimentos. Segundo a ONU, 2,3 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015.