Met de Nova York promete devolver 16 obras de arte saqueadas nos anos 70
Tesouros datados do Império de Angkor, entre os séculos IX e XV, retornarão a Camboja e Tailândia
O Metropolitan Museum of Art (Met), de Nova York, anunciou nesta sexta-feira, 15, que devolverá 16 obras de arte saqueadas a Camboja e Tailândia. A iniciativa ocorre após anos de pressão do governo cambojano, que alega que os tesouros antigos foram retirados ilegalmente do país na década de 1970, e da descoberta de que Douglas Latchford, um negociador de arte e doador do Met, era, na realidade, um traficante de artefatos. Ele foi indiciado formalmente em 2019, um ano antes da sua morte, aos 88 anos.
“O Met tem trabalhado diligentemente com o Camboja e o Ministério Público dos Estados Unidos durante anos para resolver questões relativas a estas obras de arte, e novas informações que surgiram deste processo deixaram claro que deveríamos iniciar a devolução deste rol de esculturas”, disse o diretor do Met, Max Hollein, acrescentando que planeja firmar parcerias de exibições com ambos os governos para “promover a compreensão e apreciação mundial da arte Khmer”.
Ao todo, 14 obras serão devolvidas a Camboja e duas à Tailândia, todas datadas do Império de Angkor, entre os séculos IX e XV. Parte delas permanecerá em exibição no museu nova-iorquino até seu envio às nações de origem, mas agora passam a contar com um texto de explicação, ao lado das esculturas, sobre a repatriação.
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A investigação
O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, em colaboração com o Met, abriu uma investigação sobre o caso dos supostos saques após Camboja enviar reclamações formais ao gabinete do procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York.
Há anos, o país asiático busca reaver sua herança cultural perdida, realizando uma série de investidas contra o Met. As acusações foram baseadas no relato de um antigo saqueador, Toek Tik, que identificou 33 artefatos na coleção do museu nova-iorquino como objetos que ele saqueou. Os artefatos teriam sido retirados de santuários e, muitas vezes, posteriormente negociados por Douglas Latchford.
O procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, Damian Williams, informou que as recém-anunciadas devoluções representavam apenas uma pequena fatia do trabalho realizado pelo seu escritório e que outras “investigações estão em andamento”.
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Expansão do Met e Latchford
Na década de 1970, período em que a Camboja esteve imersa em uma guerra civil, o museu nova-iorquino expandiu suas galerias sobre o Sul e o Sudeste Asiático, como um suposto esforço de representar as culturas da região aos seus visitantes. Latchford esteve envolvido na empreitada. Cinco décadas mais tarde, ele foi indiciado sob acusação de tráfico de obras cambojanas e de falsificação de documentos.
O criminoso, a partir de 1983, sistematicamente doou e vendeu uma série de obras de arte ao Met. Acredita-se que, antes de iniciar a parceria com a renomada instituição, o negociador tenha comercializado múltiplos itens roubados a outros doadores, ampliando o panorama de artefatos históricos perdidos.
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Peças a serem devolvidas
Entre as 14 obras devolvidas estão um bronze do século X, nomeado “Cabeça de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão Infinita”; e uma figura de bronze com prata incrustrada, “Bodhisattva Avalokiteshvara Sentado em Royal Ease”, adquirida pelo Met em 1992, diretamente de Latchford. A obra, na ocasião, foi chamada de “uma das melhores e mais importantes das poucas grandes esculturas de bronze sobreviventes do período Angkor”.
Ao contrário do que havia dito Latchford, Toek Tik encontrou a estátua por volta de 1990, a cerca de 320 quilômetros de Phnom Penh, capital do Camboja. Sua afirmação foi apoiada por fotografias encontradas no computador do negociador de arte, que mostravam a estátua coberta de terra, sugerindo que havia sido escavada recentemente.