O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, começa um périplo pela América Latina pela Argentina, nesta sexta-feira, 19. Sua presença em Buenos Aires sinalizará um discreto apoio da Casa Branca à reeleição do presidente Mauricio Macri, um aliado de Washington que aderiu à severa agenda de austeridade do Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um bilionário auxílio para superar a crise econômica. Pompeo não incluiu o Brasil em seu roteiro.
Além da Argentina, Pompeo visitará o Equador, México e El Salvador entre os dias 19 e 21 de julho, onde abordará temas-chave para o governo Donald Trump: a imigração procedente da América Central, o terrorismo supostamente patrocinado pelo Irã e o caso do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, abrigado por anos na embaixada equatoriana em Londres.
“É uma viagem com efeitos tanto na política externa quanto na política doméstica”, disse Erick Langer, especialista em América Latina da Universidade de Georgetown, em alusão à eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos.
Candidato à reeleição, Trump colocou no centro de sua retórica o combate ao aumento da imigração irregular pela fronteira sul, procedentes. Desde o final de 2018, acentuaram-se as caravanas de cidadãos da Guatemala, El Salvador e Honduras em busca de refúgio e oportunidade nos Estados Unidos.
Na Argentina, Pompeo irá à Segunda Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo, que coincide com o 25º aniversário do atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), em Buenos Aires, que deixou 85 mortos. Anos de investigação levaram o governo argentino a acusar o movimento libanês Hezbollah e o Irã como autores do atentado, mas ninguém foi condenado até o momento. Nesta quinta-feira, 18, a Casa Rosada congelou bens pertencentes ao grupo e o designou como uma organização terrorista.
O momento coincide com a escalada de tensões entre Estados Unidos e Irã devido a série de ataques a petroleiros e o abate de um drone americano no Golfo de Omã e no Estreito de Hormuz.
No domingo, 20, Pompeo se reunirá com o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard. O encontro acontece depois de o governo Trump ter anunciado, em 15 de julho, uma norma que restringe a possibilidade de os migrantes poderem solicitar refúgio em território dos Estados Unidos. Washington quer mantê-los no México até que suas autoridades decidam sobre o pedido. A medida foi rejeitada pelo governo de Andrés Manuel López Obrador.
Também no domingo, o secretário de Estado visitará o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, que acaba de assumir um país assolado pelo crime organizado e por uma economia estancada. Junto com Guatemala e Honduras, El Salvador é um dos três países centro-americanos de onde procede a maioria dos milhares de migrantes que chegam à fronteira sul dos Estados Unidos nos últimos meses.
Obrigado, Lenín
No sábado, o secretário americano irá ao Equador, onde se encontrará com o presidente Lenín Moreno no porto de Guayaquil. Segundo o Departamento de Estado, “Lenín fez um grande trabalho” para dar “um novo rumo” à relação bilateral, com uma considerável mudança em relação a seu antecessor, Rafael Correa.
Para satisfação de Washington, Moreno retirou, em abril, o asilo diplomático concedido a Assange. O fundador do WikiLeaks ficou quase sete anos abrigado em sua embaixada em Londres para evitar ser extraditado para os Estados Unidos, onde enfrentaria acusações por espionagem.
“Pompeo vai demonstrar seu agradecimento”, disse Erick Langer, sem descartar a possibilidade de avanços na cooperação em segurança reativada no ano passado.
Ao comentar a escala no Equador, uma autoridade americana elogiou Moreno por liderar o chamado Processo de Quito, que coordena políticas dirigidas aos milhões de venezuelanos que deixaram seu país.
“Dada a reunião do Grupo de Lima em Buenos Aires, na segunda-feira, 23, a viagem também lhe dá (a Pompeo) uma importante oportunidade para interagir com os líderes regionais sobre a Venezuela, para discutir formas de aumentar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro e ajudar os países a lidar com o fluxo em massa de refugiados venezuelanos”, afirmou Cynthia Arnson, diretora do Programa de América Latina do Wilson Center, de Washington
Antes e depois da viagem pela América Latina, Pompeo fará duas paradas em solo americano. Na quinta-feira, 18, irá a Porto Rico para se reunir com os funcionários do Departamento de Estado envolvidos na reconstrução do protetorado, fustigado pelo furacão Maria, em 2017. Na próxima segunda, 21, Pompeo fará um discurso em Orlando, na Flórida, para uma organização de veteranos de guerra.