Mineiros do Chile recebem direito à indenização 13 anos após acidente
Os 33 homens ficaram presos por 69 dias depois de acidente na mina de San José, em agosto de 2010
A Suprema Corte do Chile rejeitou nesta segunda-feira, 4, um recurso do Estado chileno e o condenou a pagar US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 6,9 milhões) em indenizações aos 33 mineiros resgatados de um acidente na mina San José, a 720 metros de profundidade, em 2010. Eles acusavam o Serviço Nacional de Geologia e Minas, o Ministério Regional da Saúde e a Direção do Trabalho de falta de fiscalização nas jazidas nacionais.
Dividido o montante, cada mineiro deverá receber US$ 46 mil (R$ 227,4 mil) nos próximos quatro meses, de acordo com o advogado de acusação, Jorge Ríos. Os funcionários Raúl Bustos e Juan Illanes não participaram do processo e, portanto, não receberão indenizações. Illanes acredita que a mineradora que deveria ser responsabilizada, ao passo que Bustos disse estar “em outro momento”, tendo superado o episódio.
O acidente na mina de San José, próxima a Copiapó, ocorreu em 5 de agosto de 2010, quando uma rocha bloqueou a saída. Eles só foram resgatados em 13 de outubro, 69 dias depois, através da cápsula Phoenix. A jazida já havia sido fechada em 2007, após a morte de um trabalhador, mas reabriu sem atender às exigências, que incluíam a construção de uma segunda saída, no ano seguinte. A mina encerrou suas produções com o acidente.
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Segundo o jornal chileno El Mercurio, alguns deles já não acreditavam que receberiam qualquer forma de compensação do Estado. Omar Reygadas e Franklin Lobos, ex-mineiros que hoje trabalham em uma loja de aluguel de veículos, estavam entre os desesperançosos. Reygadas disse, inclusive, que “já tinha dado isso a Deus”.
Diagnosticado com uma doença pulmonar decorrente da exposição à poeira na mina, Johnny Barrios adiantou que gastará parte do dinheiro para aprimorar seu caminhão, já que trabalha como motorista de máquinas pesadas em Copiapó, na região de Atacama. Ele relatou que usará o restante em projetos familiares.
Luis Urzúa , que era gerente de turno no momento do acidente, hoje se dedica a ministrar conferências sobre segurança do trabalho. Para ele, a entrega da indenização significa o fechamento de um ciclo. “Isso está estabelecendo um precedente para a mineração no Chile. Para mim o dinheiro não era tão importante, mas que esse ciclo tinha que ser fechado”, afirmou.
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Em depoimento ao El Mercurio, José Ojeda, portador de diabetes, problemas cardíacos e Alzheimer, informou que a indenização foi reduzida quando comparada às promessas de 2018, quando propuseram “pagar 80 milhões de pesos (R$ 456 mil) e os advogados recorreram da decisão de primeira instância”.
Ele acrescentou, ainda, que a justiça “não foi feita aqui, foi feita apenas para encerrar o caso”. Ojeda foi responsável por escrever a mensagem “nós 33 estamos bem no abrigo”, enviada à superfície 12 dias após o acidente, comunicando que todos estavam vivos.
A história chamou atenção de Hollywood, que tratou de produzir um filme sobre o drama vivenciado pelos mineiros, estrelado por Antonio Banderas e Rodrigo Santoro. Em 2013, dois anos antes da divulgação do longa-metragem “Os 33”, os ex-funcionários acusaram produtores de forçá-los a assinar contratos irregulares e disponíveis apenas em inglês.