Missão madura
Mike Pompeo, o secretário de Estado americano, aproveita a ascensão de presidentes de direita na América do Sul para aumentar a pressão contra a Venezuela

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, compareceu à posse de Jair Bolsonaro, em Brasília, mas sua missão no continente ultrapassou os salamaleques diplomáticos. Pompeo intensificou o fogo cruzado contra os três males da Venezuela: a ditadura, a crise econômica e o drama humanitário do país. Para os Estados Unidos, a nova conjuntura política latino-americana, em que a direita está desbancando os governos de esquerda, é o momento certo para aumentar a pressão contra o ditador Nicolás Maduro.
Em Brasília, Pompeo esteve com o chanceler Ernesto Araújo, ao lado de quem deu entrevista coletiva e afirmou que Brasil e Estados Unidos trabalharão juntos “contra regimes autoritários no mundo”. Não se referia exatamente ao “mundo”, mas à trinca latina: Venezuela, Cuba e Nicarágua. Ele esteve ainda com o chanceler peruano, Néstor Bardales, com quem reiterou a necessidade de pressionar a Venezuela. Na Colômbia, sua parada seguinte, reuniu-se com o recém-empossado Iván Duque, também um político de direita. Em conversa de uma hora, bateu na mesma tecla: “a luta para, através da diplomacia, acabar com o regime de Maduro”.
Por trás das declarações diplomáticas, há uma estratégia. “Pompeo quer aumentar as sanções contra a Venezuela”, diz Daniel Hellinger, professor de relações internacionais na Universidade Webster. “E o que está fazendo para atingir isso é, basicamente, unir os presidentes da direita que chegaram ao poder na América Latina nos últimos anos.” A investida contra Maduro não é nova. No ano passado, o jornal The New York Times denunciou que diplomatas americanos se encontraram com militares rebeldes venezuelanos para planejar a deposição de Maduro. O próprio presidente Donald Trump já afirmou que não descartaria uma ação militar no país. Enquanto Pompeo angaria aliados, Maduro se prepara para renovar seu mandato presidencial no próximo dia 10 por mais seis anos. O que resta saber é quanto vai durar, já que, agora, os Estados Unidos têm mais companhia.
Publicado em VEJA de 9 de janeiro de 2019, edição nº 2616