Em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal nesta quarta-feira, 20, o ex-presidente de Bolívia Evo Morales declarou que está disposto a não participar das próximas eleições, caso tenha permissão para voltar ao país e terminar os últimos meses de seu mandato. O Senado ainda não aprovou oficialmente a renúncia de Morales.
Além disso, Morales afirmou que pode nomear, em trabalho conjunto com a oposição, uma nova autoridade eleitoral para monitorar a escolha do próximo líder.
O ex-presidente acusa o autoproclamado governo interino, que tem a senadora da oposição Jeanine Añez como presidente —eleita indiretamente pelo Senado em uma sessão sem quórum —, de ser uma “ditadura”. Desde que Morales renunciou ao cargo em 10 de novembro, em meio ao caos político que se instaurou em seu país, protestos tomaram as ruas da capital La Paz.
A repressão das forças policiais, autorizada por um decreto de Añez que isenta agentes das Forças Armadas de responsabilidade penal em casos de “cumprimento de suas funções Constitucionais, ataque em legítima defesa ou estado de necessidade”, já deixou 26 mortos.
“A demanda clara do povo mobilizado é que a ditadura deve sair”, afirmou o ex-presidente. “Isso significa que terminarei meu mandato e em troca não serei candidato na próxima eleição. Se for uma questão de paz, para que não se percam mais vidas, sem problemas, eu renuncio à candidatura”, disse.
As eleições na Bolívia foram marcadas por acusações de fraude feitas pela oposição. Durante a apuração dos votos, o Tribunal Eleitoral do país deu a vitória a Morales, mas em meio das contestações e protestos de grupos opositores, o ex-presidente solicitou uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA). O relatório final, apresentado na manhã do dia 10 de novembro, sugeria ao governo que convocasse novas eleições.
Morales fez como a OEA sugeriu e anulou o resultado, porém, antes que pudesse anunciar uma nova data, o Exército do país “recomendou” publicamente sua renúncia. No dia anterior, quartéis pela capital haviam se amotinado.
O ex-presidente considerou a situação como golpe, renunciou ao cargo e se refugiou em Cochabamba, tradicional reduto de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS).
Entre domingo 10 e terça-feira 12, Morales partiu para o México, onde recebera asilo político do governo mexicano. Ao aterrissar na capital Cidade do México, o ex-presidente denunciou um plano que visava matá-lo. Desde então, principalmente pelo Twitter, denuncia o governo interino, que considera ilegítimo.
Para Morales, sua presença na Bolívia é essencial para “pacificar o país”. Seu desejo, expresso na entrevista ao WSJ, é de voltar ao seu país natal e negociar com a oposição um acordo em que tire a Bolívia da crise política e que evite mais mortes.
Na entrevista, Morales negou que tenha vencido a última eleição com fraude, pedindo uma “comissão da verdade” do processo formada pelo Vaticano, a Organização das Nações Unidas e o Centro Carter, grupo pró-democracia sediado nos Estados Unidos iniciado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter.
(Com Estadão Conteúdo)