Morreu nesta segunda-feira a política e ativista contra o apartheid na África do Sul Winnie Madikizela-Mandela, confirmou seu assistente pessoal, Zodwa Zwane, ao jornal local Times.
Ela morreu pacificamente e rodeada por familiares, após uma longa doença que a levou a repetidas internações desde o início do ano passado, disse o porta-voz Victor Dlamini em comunicado.
Winnie, que tinha 81 anos, foi esposa de Nelson Mandela durante 38 anos, sendo 27 enquanto ele esteve preso na Ilha Robben. Se separaram em 1992, dois anos antes de Madiba se tornar o primeiro presidente negro da África do Sul, mas a separação só se tornou oficial em 1996.
“Ela lutou valentemente contra o Estado do apartheid e sacrificou sua vida pela liberdade do país”, disse Dlamini. “Ela manteve viva a memória de seu marido preso, Nelson Mandela, durante seus anos na Ilha Robben e ajudou a dar à luta pela justiça na África do Sul um de seus rostos mais reconhecidos.”
Ativista controversa
Nascida em 26 de setembro de 1936, na Província de Cabo Oriental (sul), de onde Nelson Mandela também é natural, Winnie obteve diploma universitário em serviço social, uma exceção para uma mulher negra na época. Seu casamento em junho de 1958 com Nelson Mandela — ela com 21 anos e ele, divorciado e pai, com quase 40 — foi rapidamente perturbado pelo engajamento político de seu marido.
“Nunca tivemos uma vida familiar (…) não podíamos tirar Nelson de seu povo. A luta contra o apartheid, pela nação, vinha primeiro”, escreveu ela em suas memórias.
Conhecida como “Mãe da Nação” entre seus partidários, Winnie foi uma importante ativista na luta contra o fim do apartheid. Tornou-se uma das principais figuras do Congresso Nacional Africano (CNA), a ponta de lança da luta contra o apartheid.
No entanto, também foi uma ativista controversa, acusada de diversas violações de direitos. Com o tempo, a radical “paixão dos townships” se revelou, porém, uma desvantagem e um constrangimento para o CNA. Enquanto supostos traidores da causa antiapartheid eram queimados vivos com um pneu no pescoço, ela dizia que os sul-africanos deveriam se libertar com “caixas de fósforos”. Um verdadeiro chamado ao assassinato.
Winnie se cercou de um grupo de jovens, formando sua própria guarda, o “Mandela United Football Club” (MUFC), com métodos particularmente brutais. Em 1991, foi considerada culpada de cumplicidade no sequestro do jovem ativista Stompie Seipei. Foi condenada a seis anos de prisão, uma sentença mais tarde comutada a uma multa simples.
Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC), encarregada dos crimes políticos do apartheid, declarou Winnie “culpada política e moralmente pelas enormes violações dos direitos humanos” cometidas pelo MUFC.
“Ela foi uma formidável defensora da luta, um ícone da libertação”, disse Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz e amigo de Nelson Mandela. “E, então, algo deu terrivelmente errado.”
Nomeada vice-ministra da Cultura após as primeiras eleições multirraciais de 1994, Winnie foi demitida por insubordinação pelo governo de seu marido um ano depois. Banida pela liderança do CNA, sentenciada novamente, em 2003, por fraude, ela retornou à política quatro anos depois, juntando-se ao comitê executivo do partido, o corpo administrativo do CNA.
Ela criticava severamente o acordo histórico assinado por seu marido com os brancos para pôr fim à segregação. “Mandela nos abandonou”, afirmava. “O acordo que ele fez é ruim para os negros”, insistia.
A imagem do casal Mandela, marchando de mãos dadas após a libertação do herói antiapartheid, em 1990, viajou pelo mundo. Mas os cônjuges nunca se encontraram. Eles finalmente se divorciaram em 1996, após um processo sórdido que revelou as infidelidades de Winnie.
(Com EFE, AFP e Reuters)