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Morte de mergulhador expõe riscos de resgate em caverna na Tailândia

Samarn Poonan era mergulhador treinado da Marinha tailandesa e morreu tentando levar oxigênio a meninos presos

Por Carolina Marins Atualizado em 4 jun 2024, 16h37 - Publicado em 6 jul 2018, 15h01
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  • A morte de um mergulhador experiente na madrugada de hoje (ontem à noite no horário de Brasília) evidenciou os riscos de resgatar doze meninos e seu técnico de futebol, presos em uma caverna no norte da Tailândia. A morte de hoje somada ao retorno das chuvas e à escassez de oxigênio dentro da caverna tornam o resgate cada vez mais dramático e urgente.

    Samarn Poonan, de 38 anos, era mergulhador treinado e ex-integrante da Marinha tailandesa. Ele se ofereceu como voluntário para ajudar no resgate dos meninos que estão presos na caverna há quase duas semanas. Durante a madrugada, ele e mais um mergulhador levaram suprimentos para os adolescentes, principalmente cilindros de oxigênio, que está diminuindo no ar do interior da caverna e começa a causar preocupação. No caminho de volta, ele perdeu a consciência e, embora tenha sido socorrido por um companheiro, não resistiu. Ainda é necessário realizar autópsia para determinar a causa exata da morte.

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    O percurso que os mergulhadores fazem para chegar ao time de futebol é longo e complicado. Ao todo, a equipe tem demorado cerca de seis horas para chegar até os meninos e cinco horas – nadando em favor da correnteza – para retornar à entrada da caverna. Nem todo o caminho é feito por meio de mergulho, sendo possível caminhar em algumas partes da caverna. No entanto, dependendo da profundidade atingida e do esforço que os mergulhadores fazem durante o percurso, um cilindro de ar é suficiente para cerca de trinta minutos embaixo d’água. Isso significa que eles precisam carregar uma quantidade grande de cilindros para completar o percurso, explica Claudio Santos, instrutor de mergulho da escola Amigos do Joe, de São Paulo.

    Local na Tailândia onde um time de futebol está preso.
    Local na Tailândia onde um time de futebol está preso. (./.)

    O instrutor explica que a principal causa de morte em mergulho de cavernas – um dos tipos mais complexos de submersão – é o desespero. “O mergulho em qualquer região com teto é perigoso e exige um psicológico controlado. O teto baixo pode causar desespero em algumas pessoas e o desespero leva a uma respiração ofegante e, por consequência, ao alto consumo de ar”. Esta poderia ter causado uma ausência de ar no cilindro de Poonan no fim do percurso e a consequente perda de consciência do ex-militar.

    Mergulhos em caverna sempre exigem a presença de um cabo-guia para auxiliar no retorno ao local de partida. “Esse mergulhador pode ter perdido acesso ao cabo e se desesperado ou até ter acreditado que já estava próximo da saída, o que o teria levado a intensificar a respiração e assim esgotar o ar”, sugere o instrutor. “Quem faz mergulho em caverna precisa ter uma margem de segurança de quanto tempo vai levar, onde está e como será o percurso. Perder isso é um risco”. Além disso, a visibilidade também é um obstáculo. Dentro de cavernas ela costuma ser de 20 a 30 centímetros (em alto-mar não agitado e áreas de corais, visibilidade de 20 metros não são incomuns), no entanto, a água da caverna de Tham Luang é enlameada, prejudicando a visão.

    Retirar os meninos e o técnico por meio do mergulho é a principal alternativa de resgate, mas a morte de Poonan põe em xeque a viabilidade do método. Outra possibilidade seria deixá-los em segurança na caverna até outubro, quando termina a época das chuvas de monções. No entanto, a previsão do retorno das tempestades no próximo domingo e a queda de oxigênio no interior da caverna preocupa a equipe, pois o time pode não conseguir sobreviver por tanto tempo no local.

    Outro problema é a saúde física e mental dos meninos e do técnico também: uma avaliação médica dos garotos – com idades entre 11 a 16 anos– e do treinador, de 25 anos, concluiu que o grupo está debilitado fisicamente pelos dias que ficaram sem se alimentar. Segundo o relatório, ao menos dois dos meninos e o técnico sofrem de exaustão. Além disso, nenhum deles sabe nadar.

    Corte transversal de cavernas na Tailândia onde um time de futebol está preso.
    Corte transversal de cavernas na Tailândia onde um time de futebol está preso. (Arte/VEJA)

    Claudio Santos explica que, para mergulhar, o time precisa principalmente aprender a respirar de forma a economizar ar quando estiver em áreas profundas. Em situações normais, uma pessoa pode aprender o básico para mergulho com guia em aulas rápidas. No entanto, as condições em que se encontram os garotos não favorecem o aprendizado. “Crianças tem facilidade para aprender a respirar, mas é necessário ter o psicológico, [pois] eles não podem se desesperar”. Caso haja uma retirada, ela terá de ser lenta, provavelmente sendo feita com uma pessoa por vez.

    À imprensa, membros da equipe de resgate informaram que a morte de Samarn Poonan, apesar de evidenciar os riscos, não descarta a extração do grupo via mergulho. Eles estão bombeando água para fora da caverna, para facilitar a saída do time. Até o momento, foram retirados 130 milhões de litros de água.

    Autoridades tailandesas prestaram condolências ao mergulhador. Segundo o jornal The Bangkok Post, o funeral de Poonan será pago pelo rei da Tailândia e um rito real será realizado hoje, em homenagem ao mergulhador.

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