Em isolamento em sua casa em Wilmington, no estado de Delaware, o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, se vê em uma situação financeira bem menos confortável do que a de seu concorrente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A diferença é gritante – 187 milhões de dólares – e força sua campanha a buscar nas grandes fortunas progressistas do país o capital necessário para derrotar o magnata nas eleições de novembro.
Dados divulgados pelo Comitê Nacional Democrata apontam a arrecadação de 51,7 milhões pelo time de Biden. Porém, pouco menos da metade teve como origem pequenos doadores, que injeteram em torno de 200 dólares. Cerca de 27 milhões de dólares chegaram à campanha na primeira quinzena de março, quando a crise no setor financeiro decorrente da pandemia de Covid-19 ainda não havia explodido. Foi nesse período que Biden consolidou-se como candidato, com a renúncia do senador Bernie Sanders da corrida democrata, e recebeu o apoio de seu ex-chefe, Barak Obama. O Comitê Republicano, por sua vez, senta-se confortavelmente sobre 240 milhões de dólares, segundo o jornal The New York Times.
Ter um cofre cheio é fundamental em qualquer campanha eleitoral, especialmente nas presidenciais. Nos Estados Unidos, as cifras angariadas em eventos de costumam ser elevadas, mas esses momentos de aproximação entre candidatos e doadores estão congelados pela quarentena. Dinheiro significa a expansão dos mapas eleitorais, a contratação de mais pessoas, propagandas abundantes e a adoção de experimentos eleitorais, explica o Times. Mas, ao contrário, o comitê democrata em Milwaukee, no estado de Wisconsin, que sediará a convenção do partido em agosto, demitiu funcionários na semana passada.
Do porão de sua casa em Wilmington, onde montou um estúdio profissional, Biden ainda tenta reverter sua desvantagem monetária diante de Trump, que monopoliza as atenções do país com suas aparições diárias nas entrevistas sobre a pandemia na Casa Branca e que põe em sua própria conta a ajuda trilionária autorizada pelo Congresso aos americanos e empresas vulneráveis à crise. Biden aposta nos bolsos dos grandes doadores democratas.
Na semana passada, o democrata gravou vídeo com um de seus principais arrecadadores entre os americanos bem-aventurados, o casal Erskine e Crandell Bowles, que havia em agosto de 2019 promovido um evento com o mesmo objetivo em Charlotte, na Carolina do Norte. Segundo a agência de notícias Associated Press, na gravação, Erskine Bowles admite que a economia golpeia todo mundo, mas que os grandes doadores democratas continuam engajados na campanha de Biden. “Não há gente mais patriota que os doadores democratas que assinam cheques gordos porque eles estão dando contra seus próprios interesses”, admitiu Kirk Wagar, ex-chefe da área financeira das campanhas de Obama, à AP.
Entre analistas políticos americanos, a vantagem financeira de Trump pode ser um alívio diante do seu concorrente mais forte que Biden. A Covid-19 se espalhou rapidamente pelo país, ceifando vidas e lotando as UTIs de hospitais, enquanto o presidente atacava os governadores que haviam apostado na quarentena. Nesta terça-feira, o país registra 793.361 casos de contaminação e 39.252 mortes. Parte desse lamentável saldo certamente desmotivará uma parcela dos eleitores republicanos a ir às urnas para marcar o nome do candidato à reeleição.
Segundo David Brock, co-fundador do grupo democrata American Bridge (Ponte Americana), as questões fundamentais estão nos pequenos doadores, que responderam por boa parte do financiamento das campanhas democratas anteriores, e na alta visibilidade de Trump. “É claro que eles vão recuar com o desemprego aumentando, as horas de trabalho cortadas e com os jovens entrando no mercado de trabalho com menores perspectivas”, afirmou à AP.