Na ONU, Brasil pede desmobilização de tropas, mas evita críticas a Putin
Conselho de Segurança da organização fez reunião emergencial após anúncio de envio de tropas russas a duas regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia
Após a decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de ordenar o envio de tropas a duas regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas se reuniu de forma emergencial na noite de segunda-feira, 21, para discutir o risco de uma guerra. Em sua fala, o embaixador brasileiro na organização fez um pedido para que haja a retirada de militares, mas evitou críticas diretas à Rússia ou ao presidente russo.
“Renovamos nosso apelo para que todas as partes envolvidas mantenham o diálogo”, disse o embaixador Ronaldo Costa Filho, chefe da missão brasileira na ONU. “Um inescapável primeiro objetivo é um cessar-fogo imediato, com uma retirada das tropas e equipamentos militares em solo. Essa desmobilização militar será um passo importante para construir confiança entre as partes, fortalecer a diplomacia e buscar uma solução sustentável para a crise”.
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Enquanto a Rússia, que ocupa a Presidência rotativa do conselho, queria que o encontro fosse a portas fechadas, os Estados Unidos insistiram que a deliberação fosse aberta. A reunião emergencial começou em Nova York às 23h, horário de Brasília, e não houve anúncio de nenhuma decisão concreta, servindo apenas para que países expressassem suas posições e trocassem informações.
O anúncio de envio de tropas foi feito por Moscou poucas horas depois de Putin reconhecer a independência de regiões separatistas pró-Moscou da Ucrânia. De acordo com a agência de notícias RIA, o presidente instruiu as Forças Armadas a “garantirem a paz” nas regiões, sem dar mais detalhes.
As autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk são em boa parte controladas por separatistas pró-Moscou desde 2014 e palco de uma guerra que já deixou cerca de 15.000 mortos.
Ainda não é claro o número de soldados, quando eles seriam enviados ou até mesmo se os militares russos ficarão apenas nas áreas controladas pelos separatistas ou se pretendem capturar o resto das duas regiões cujo território os rebeldes reivindicam. Apesar da reivindicação de território por parte dos rebeldes e o reconhecimento russo, a Ucrânia e a comunidade internacional entendem as repúblicas autoproclamadas como solo ucraniano, o que faz com que, na prática, a ação russa seja equivalente a uma invasão a território do país vizinho.
Reunião emergencial
Como a Ucrânia não faz parte do Conselho atualmente, o governo ucraniano precisou que algum dos membros convocasse uma reunião sobre o tema. O pedido, que teve apoio do Brasil, ocupante de uma das vagas rotativas, teve endosso da França, que tem assento permanente e vem mostrando uma sólida aliança com os Estados Unidos no enfrentamento da crise.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou em Moscou com Putin. O encontro, no qual o mandatário brasileiro disse ser “solidário à Rússia”, foi amplamente criticado, incluindo pelos Estados Unidos.
Dentro do Conselho, os países aliados aos Estados Unidos (principalmente Reino Unido, França, Irlanda, Suécia e Albânia) até agora não conseguiram obter o apoio de outros países não europeus.
Sendo membro permanente, a Rússia tem poder de veto para barrar decisões dentro do Conselho, sendo capaz de conter quaisquer medidas que podem ser vistas como prejudiciais.
Em discurso, o representante russo na ONU, Nebenzia Aleksevich, defendeu a decisão de Putin e acusou a Ucrânia de não respeitar os russos étnicos que vivem em regiões separatistas, além de ignorar quaisquer possíveis negociações com representantes separatistas.
A fala é similar à feita por Putin em discurso ao anunciar o reconhecimento das duas regiões, na qual acusou autoridades ucranianas de tentarem impedir o uso do idioma russo através de leis que privilegiam o uso do ucraniano, além de citar uma repressão à Igreja Ortodoxa russa. Ele também criticou a presença de militares estrangeiro no país vizinho, sobretudo da Otan, principal aliança militar ocidental.
“Acabamos de ouvir muitos discursos altamente emocionais, avaliações categóricas e conclusões distantes. (…) Agora é importante focar em como evitar uma guerra e como forçar a Ucrânia a parar as provocações contra Donetsk e Luhansk”, disse o embaixador russo na ONU.
Em tom mais incisivo que o usado pelo representante brasileiro, a embaixadora americana Linda Thomas-Greenfield disse que, “na essência, Putin quer que o mundo volte no tempo, para o tempo em que impérios dominavam o mundo. Não estamos em 1919, mas em 2022”.
Pouco antes da reunião, a União Europeia já havia afirmado que “o reconhecimento dos dois territórios separatistas na Ucrânia é uma violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos acordos de Minsk”. O chefe de política externa do bloco prometeu sanções econômicas contra Moscou, assim como os Estados Unidos.
Para a China, que vem adotando uma posição mais neutra, também sem críticas diretas à Rússia, “a situação atual na Ucrânia é resultado de diversos fatores complexos”.
“A China sempre toma sua própria posição de acordos com os méritos da questão em si. Entendemos que todos os países devem resolver disputas internacionais por meios pacíficos”, disse o representante Zhang Jun.