Uma vitória acapachante para os conservadores nas eleições do Reino Unido tem de ser lida, obrigatoriamente, também como derrota histórica para os trabalhistas. Sob o mantra de “vamos concluir o Brexit“, o primeiro-ministro, Boris Johnson, levou 364 das 650 cadeiras do Parlamento britânico, 66 a mais do que antes do pleito, enquanto o opositor, Jeremy Corbyn, perdeu 42, ficando apenas com 203 assentos. Em discurso nesta sexta-feira, 13, Corbyn reconheceu a maior derrota do Partido Trabalhista em 84 anos e anunciou que deixará a liderança da leganda.
Corbyn disse à imprensa estar desapontado com o resultado das eleições, apesar de se sentir orgulhoso pela campanha, que deu oportunidade para apresentar suas propostas de políticas sociais. Quando questionado se deixaria o cargo de líder do partido, confirmou, e antecipou ou que a decisão final será apresentada no começo de 2020.
“O diretório nacional (do partido) deverá se reunir, é claro, num futuro próximo. E está nas mãos deles (dos líderes). Será no início do próximo ano”, disse.
O jornal britânico The Guardian elencou os motivos que podem explicar a derrota dos trabalhistas nas eleições de quinta-feira 12. Entre eles, apontou a pulverização das pautas e promessas de Corbyn, enquanto os conservadores se focaram apenas no Brexit, uma novela que se arrasta há três anos. Na mesma entrevista, Corbyn reconheceu que as eleições “foram tomadas pelo Brexit”.
Não foi somente Corbyn que saiu derrotado nesse pleito. A líder do Liberal Democrata, Jo Swinson, perdeu no seu próprio distrito para o Partido Nacional Escocês (SNP). Logo renunciou ao cargo. Os liberais-democratas conseguiram apenas 11 assentos, uma perda de 10 parlamentares.
O SNP saiu-se fortalecido e conquistou 13 cadeiras a mais no Parlamento, ficando com 48 parlamentares. A repercussão dentro da Escócia foi imediata. A líder da legenda e primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou que irá levar adiante um novo referendo de independência do país, em pronto desafio a Johnson. Sturgeon disse que ela ganhou o direito a um “renovado, novo e mandato fortalecido” para convocar a consulta popular.
“Eu não pretendo acreditar que cada pessoa que votou no SNP vai necessariamente dar apoio à independência, mas houve um forte endosso nesta eleição para a Escócia poder decidir sobre seu próprio futuro, para não termos que aturar um governo dos conservadores, no qual não votamos, e não termos que aceitar uma vida fora da União Europeia”, disse.
“Brexit indiscutível”
Nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira, o primeiro-ministro, Boris Johnson, discursou em frente ao número 10 de Downing Street, a residência oficial, e disse que o Brexit é uma decisão “irrefutável, irresistível e indiscutível” do povo britânico. Prometeu aos que votaram nos conservadores em áreas tradicionalmente trabalhistas que não irá decepcioná-los.
Depois do breve discurso, Johnson seguiu para o Palácio de Buckingham, em Londres, para ser oficialmente empossado como primeiro-ministro pela rainha Elizabeth II. Desta vez, sob a chancela do voto popular, já que fora designado líder do país em junho de forma indireta, após a renuncia da ex-primeira-ministra Theresa May.
Com a larga vantagem de assentos no Parlamento, Johnson levará adiante o divórcio da União Europeia e espera, em 31 de janeiro, ter seu texto aprovado em Westminster, colocando fim a um impasse de três anos no Reino Unido.