Em uma audiência de alto risco para sua carreira política, o ex-premiê britânico Boris Johnson declarou nesta quarta-feira, 22, de maneira combativa que não mentiu ao Parlamento sobre as festas realizadas durante o lockdown pela Covid-19, imposto por seu próprio governo.
O escândalo chamado de “partygate” contribuiu para a queda final de Johnson, depois de diversos relatos sobre ele, e outras figuras importantes do governo, estarem participando de reuniões regadas a álcool em Downing Street, que a residência oficial do premiê, assim como gabinetes de autoridades do alto escalão. Os encontros teriam acontecido entre 2020 e 2021, momentos mais críticos da pandemia de coronavírus.
Agora, o Comitê de Privilégios do Parlamento investiga se Johnson, que foi deposto em setembro, enganou intencionalmente a Câmara dos Comuns depois de uma série de declarações sobre não ter quebrado nenhuma regra nas reuniões.
Caso o comitê descubra que o ex-primeiro-ministro enganou deliberadamente os legisladores, ele poderá ser suspenso de seu cargo no Parlamento, já que as suspensões maiores a 10 dias podem levar a uma eleição para removê-lo de sua cadeira e encerrar sua carreira política.
O ex-líder lançou em sua longa defesa na audiência uma série de declarações argumentando ter feito tudo de “boa fé”.
“Estou aqui para dizer a vocês, de coração, que não menti para a Câmara”, disse Johnson, que acusou o comitê de parcialidade. “Quando essas declarações foram feitas, elas foram feitas de boa fé e com base no que eu sabia e acreditava honestamente na época”.
+ Boris Johnson nomeia próprio pai para o título de cavaleiro
A presidente do comitê, Harriet Harman, afirmou que consideraria as evidências fornecidas por Johnson e que, no devido tempo, iria obter ainda mais evidências. Segundo ela, é de extrema importância que os ministros sejam honestos, pois isto está cerne do funcionamento do sistema parlamentar.
Antes de dar seu depoimento, logo no início da audiência, Johnson foi obrigado a fazer um juramento de dizer a verdade sobre uma Bíblia. Ele enfatizou que o inquérito não encontrou nenhuma evidência de que ele enganou deliberadamente o Parlamento. Ele acrescentou que foi proibido pelo comitê de publicar um “grande número de extratos” nos quais sua defesa se baseou.
Ao ser questionado sobre os eventos de maio, novembro e dezembro de 2020, quando foi fotografado conversando com colegas que bebiam, Johnson disse que algumas reuniões foram “essenciais” para o funcionamento do governo. Ele afirmou que sua presença nos eventos eram necessárias para agradecer o trabalho árduo dos funcionários.
“Não achei que esses eventos fossem um problema. Ninguém os havia levantado anteriormente comigo como coisas com as quais eu deveria me preocupar”, argumentou Johnson. “Me chame de obtuso ou alheio, mas eles não me pareceram estar em conflito com as regras.”
+ Príncipe William visita fronteira polonesa em apoio à Ucrânia
Em junho de 2020, Johnson foi multado pela polícia por comparecer a um evento para comemorar seu aniversário em Downing Street. O ocorrido tornou o ex-líder no primeiro premiê acusado de violar a lei durante o mandato.
Depois que uma onda de renúncias do governo e uma revolta de seu próprio gabinete, Johnson deixou o cargo de primeiro-ministro em julho do ano passado alegando ser incapaz de continuar.