O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou em julho a possibilidade de um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, que incluiria a libertação de mais de 100 reféns israelenses, impondo uma série de exigências de última hora, informou o jornal israelense Yedioth Ahronoth nesta quarta-feira, 4.
A reportagem deu credibilidade às acusações frequentes contra o premiê de intencionalmente prolongar a guerra e sabotar uma trégua para seu próprio benefício político. Há dez meses ele ordena bombardeios e ataques terrestres na Faixa de Gaza, sem dar sinal de planos de pôr fim à operação antiterrorista. Uma pesquisa de opinião divulgada em julho revelou que 72% dos israelenses desejam sua renúncia pelas falhas na segurança durante a invasão do grupo palestino Hamas em outubro, que resultou na morte de 1.200 pessoas, mais de 5 mil feridos e 250 sequestrados.
Entrincheirado na promessa de “eliminar totalmente o Hamas”, e dependente do apoio dos ultrarradicais de sua coalizão de governo (o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou há poucos dias que matar de fome os 2 milhões de palestinos em Gaza pode ser “justificado e moral”), Netanyahu parece decidido a agir por conta própria, sem prestar contas a países aliados.
Por essas e outras ele é visto como um dos principais empecilhos a um cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde mais de 40 mil morreram desde outubro. Já existe uma estrutura para o acordo, avalizado pela ONU e todas as grandes potências: uma trégua temporária, que incluiria a libertação dos mais de 100 reféns israelenses ainda em cativeiro, depois de uma mais duradoura, para estabelecer os termos de uma nova administração no território.
Esta é a primeira vez que há provas na íntegra de seu modus operandi.
Lista de exigências
O Yedioth Ahronoth relatou que, em 27 de maio, em vez de aceitarem uma proposta de cessar-fogo, os negociadores de Israel apresentaram novas exigências. Houve mudanças inclusive nas condições que eles próprios haviam feito originalmente.
Naquele momento, o Hamas afirmou que Netanyahu havia “retornado à estratégia de procrastinação e evasão para evitar chegar a um acordo, estabelecendo novas condições”.
Entre as demandas estava a manutenção do Exército israelense na área da fronteira Egito-Gaza, conhecida como Corredor Filadélfia, e a preservação de um perímetro de 1,4 km ao longo da fronteira de Israel com Gaza, propostas estabelecidas em mapa que o jornal divulgou nesta quarta. As novas demandas foram apelidadas de “Esboço de Netanyahu”.
Além disso, a reportagem indicou que pelo menos três dos seis reféns encontrados mortos em Gaza pelas Forças de Defesa de Israel no fim de semana deveriam ter sido libertados como parte do acordo proposto em maio — Carmel Gat, Aden Yerushalmi e Hersh Goldberg-Polin.
Beco sem saída
Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que Netanyahu não estava fazendo o suficiente para estabelecer uma trégua em Gaza, destinada à libertação dos reféns em poder do Hamas.
O último cessar-fogo, realizado em novembro do ano passado, teve duração de uma semana e resultou na libertação de 105 reféns, além de 240 palestinos que estavam detidos em Israel.