O deputado Marco Feliciano (PL), também fundador e líder da Catedral do Avivamento, uma igreja neopentecostal ligada à Assembleia de Deus, embarcou nesta semana em uma viagem com os governadores Tarcísio de Freitas (PL, São Paulo) e Ronaldo Caiado (União Brasil, Goiás) até Israel. O momento é oportuno para os bolsonaristas: em meio a uma crise diplomática entre Tel Aviv e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), opositores aproveitam para criticar o petista durante evento na cidade de Ra’anana e também em um encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Em entrevista a VEJA, Feliciano afirmou que a visita foi patrocinada pela Embaixada Internacional Cristã de Jerusalém, a convite do próprio governo israelense. Segundo ele, Yossi Shelley, ex-embaixador israelense no Brasil e atual chefe de gabinete de Netanyahu, foi quem organizou o encontro com o premiê.
“Netanyahu nos disse que sabe que as falas de Lula sobre Israel não representam o Brasil. Lula falou besteiras”, afirmou Feliciano a VEJA.
Durante o encontro com o mandatário israelense, o deputado federal disse: “Nós acreditamos em Israel. Nós amamos Israel. E Lula não nos representa”. Em resposta, Netanyahu disse: “Tenho certeza”.
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Ataques a Lula
Em discurso na quarta-feira 20, Tarcísio também disse que a comparação feita por Lula não representa o povo. “A posição do povo brasileiro nada tem a ver com a posição do seu presidente”, afirmou o governador de São Paulo.
Já Caiado pediu desculpas pela fala de Lula: “Não condiz com o pensamento do brasileiro. É inadmissível, inaceitável que, realmente, um homem que não conhece a história, fazendo um depoimento que agride a todos vocês. Peço desculpas”.
Nesta quinta-feira, a Secretaria de Comunicação do governo Lula disse que os governadores “distorcem” a posição do Brasil. “Lamentamos que governadores no exterior distorçam a posição do Brasil sobre o tema, em momento em que o mundo todo se preocupa com os civis palestinos”, disse a Secom em comunicado.
O texto defende ainda que Lula se referia ao governo de Israel, não ao povo judeu. “(Ações) que também foram criticadas por governos do mundo inteiro, inclusive Europa e Estados Unidos, e que são tema de um processo pela África do Sul em Haia (Corte Internacional de Justiça)“.
Munição para críticas
A viagem ocorre em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.
Os opositores de Lula usaram a questão para atacar o governo, saindo em defesa de Israel e criticando o posicionamento do presidente, e ganhou palco até no ato bolsonarista que ocupou a Avenida Paulista, no final de fevereiro.
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O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB) divulgou na segunda-feira, 19, nota em que repudia a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Israel, pelo conflito com o Hamas. Ele também foi alvo de repúdio formal das bancadas evangélicas da Câmara e do Senado. Para os líderes religiosos que assinam o documento da CIMEB — entre eles Silas Malafaia e Estevam Hernandes — a fala de Lula “envergonha o Brasil diante das nações do mundo”. Os congressistas, por sua vez, adotaram tom mais brando e classificaram as palavras como “mal colocadas” e “desequilibradas”, mas disseram “provocar conflito ideológico desnecessário”.
“Sabemos que judeus não são cristãos, mas compartilhamos uma afinidade de espírito”, justificou Feliciano.
Briga diplomática com Israel
Em resposta à fala de Lula, o governo israelense declarou o presidente persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda.
“O chanceler israelense, Israel Katz, foi incisivo ao me dizer que Lula continuará persona non grata até que peça desculpas”, disse Feliciano a VEJA.
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Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil para “consultas”. O Itamaraty também convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.
Katz, depois disso, subiu o tom com Lula em uma série de postagens nas redes sociais e exigiu uma retratação por sua fala, que qualificou como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.