O que dizia a nota de suicídio do atirador que matou quatro em NY
Sede da NFL em Nova York era alvo de Shane Tamura, 27, que praticava futebol americano no Ensino Médio; veja o que se sabe sobre ataque e motivação

O prefeito de Nova York, Eric Adams, afirmou nesta terça-feira, 29, que o responsável pelo ataque a tiros que matou quatro pessoas em um edifício comercial de luxo de Manhattan na noite anterior tinha como alvo a sede da National Football League (NFL), a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, mas pegou o elevador errado. A polícia informou que um bilhete de três páginas foi encontrado na carteira do agressor, que cometeu suicídio após o ataque.
Investigadores afirmaram que Shane Devon Tamura, 27, tinha um histórico de doenças mentais. A nota encontrada junto a seu corpo sugeria que ele nutria ressentimento contra a NFL devido ao seu autodiagnóstico de encefalopatia traumática crônica (CTE, na sigla em inglês), associada à prática de esportes de contato. A doença só pode ser diagnosticada definitivamente após a morte.
O bilhete, do qual a polícia divulgou trechos, criticava a NFL, alegando que ela havia ocultado o perigo do esporte em favor do lucro. O texto fazia referência ao ex-jogador de futebol americano Terry Long e à ingestão de “um galão de anticongelante” — um produto químico altamente tóxico que Long usou para se suicidar em 2005.
Tamura atirou no próprio peito, em vez da cabeça. “Estudem meu cérebro, por favor”, dizia a nota. “Desculpe.”
Relação do atirador com a NFL
Durante a década de 2010, Tamura praticava futebol americano no Ensino Médio e, de acordo com seus colegas, era muito talentoso. “Não acho que ele andasse por aí dizendo ‘ah, um dia estarei em jogos da NFL’. Acho que era mais como se todos estivessem dizendo a ele o quão incrível ele era”, contou o ex-companheiro de time Caleb Clark em entrevista à emissora americana NBC.
Segundo ele, Tamura era uma pessoa extrovertida nos tempos de escola, sendo definido como “o palhaço da turma”. “Você nunca imaginaria que violência fosse algo que se associaria a ele”, contou Clark.
Ambos jogaram juntos em Santa Clarita, na Califórnia, até que Tamura se transferiu à Grenada Hills High School em 2015, antes do início do ultimo ano de Ensino Médio. Clark afirmou que manteve contato com o colega pelas redes sociais, onde ele compartilhou estar trabalhando como em um cassino em Las Vegas, Nevada.
Viagem longa
A comissária de polícia de Nova York, Jessica Tisch, disse que o atirador dirigiu mais de 4 mil quilômetros de Las Vegas, na costa oeste, até Nova York, na costa leste, para cometer o crime (semelhante a uma viagem de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até Natal, no Rio Grande do Norte). Segundo ela, Tamura usou uma carabina M4 no ataque, um rifle de assalto amplamente utilizado nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Um revólver carregado também foi encontrado posteriormente pela polícia na BMW preta que ele deixou estacionada em fila dupla em frente ao arranha-céu, juntamente com uma mochila e medicamentos vendidos apenas com receita.
Uma foto que circula nas redes sociais mostra o atirador entrando no prédio, carregando seu rifle. Verificações preliminares dos antecedentes do suspeito não revelam uma ficha criminal extensa, informou a emissora americana CNN. Outra foto amplamente divulgada mostra a autorização emitida pelo Departamento de Polícia Metropolitana de Las Vegas permitindo o porte legal de arma de fogo por Tamura.

O ataque
Cinco pessoas morreram no ataque ao arranha-céu no número 345 da Park Avenue na noite de segunda-feira 28, incluindo o próprio atirador, que se suicidou. Entre as vítimas está um policial local identificado como Didarul Islam, imigrante de Bangladesh e pai de dois filhos, cuja esposa está grávida. Na ocasião, ele estava trabalhando fora do horário comercial como segurança, segundo o prefeito Eric Adams, descrevendo-o como um “verdadeiro herói”. A comissária Tisch declarou que o agente “fez o sacrifício supremo”, sendo “baleado a sangue-frio” para salvar vidas.
As autoridades ofereceram poucos detalhes sobre as outras três vítimas — dois homens e uma mulher (Wesley LePatner, executiva da empresa de private equity Blackstone). Um terceiro homem, funcionário da NFL, ficou gravemente ferido pelos tiros mas se encontra “em condição estável” em um hospital próximo, de acordo com o comissário da liga, Roger Goodell.
“(Wesley LePatner) era brilhante, apaixonada, afetuosa, generosa e profundamente respeitada dentro e fora da nossa empresa”, declarou a Blackrock à NBC News.
O primeiro relato sobre o episódio surgiu as 18h30 locais (17h30 de Brasília). Imediatamente, alertas foram soados e os escritórios começaram a esvaziar. Era possível ver filas de pessoas saindo do prédio com as mãos acima da cabeça.
Localizado no coração de Manhattan, o edifício corporativo de luxo funciona como sede da Blackstone, da NFL, uma agência do Bank of America e escritórios da KPMG, uma das maiores empresas de prestação de serviços profissionais, que incluem Audit (Auditoria), Tax (Impostos) e Advisory Services (consultoria).
Segundo a organização Gun Violence Archive, esse foi o 254º tiroteio em massa nos Estados Unidos neste ano. A definição de “tiroteio em massa” adotada pelo grupo é aquela em que pelo menos quatro pessoas, excluindo o atirador, são mortas ou feridas a tiros.