Novas manifestações no Iraque deixam mortos; EUA pedem eleições
O país tem desemprego de cerca de 25% entre os jovens, enquanto um em cada cinco de seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza
Três manifestantes morreram no domingo 10 no sul do Iraque e dezenas de pessoas ficaram feridas pelas forças de segurança, que fizeram disparos no centro de Bagdá, que se virou um campo de batalha.
Os manifestantes morreram em Nasiriya baleados durante a noite, enquanto que em Bagdá, na praça Khalani, perto de Tahrir, ondas de manifestantes corriam sob uma nuvem de gás lacrimogêneo.
Na multidão, várias ambulâncias e triciclos motorizados levavam dezenas de feridos perto da praça Tahrir, epicentro dos protestos onde centenas de pessoas se reuniam.
No sábado, nove manifestantes foram mortos a tiros ou por gás lacrimogêneo disparado na praça Tahrir, o epicentro dos protestos, e outros três em Basra, a segunda cidade do país, no extremo sul, de acordo com fontes médicas.
Os combates recomeçaram no domingo na praça Khalani, centro de Bagdá, onde o ar está impregnado de gás lacrimogêneo.
O governo dos Estados Unidos pediu às autoridades iraquianas que façam pesquisas de opinião e reformas eleitorais, além de pedir o fim da violência contra manifestantes.
Washington quer “que o governo iraquiano interrompa a violência contra manifestantes e cumpra a promessa do presidente (Barham) Saleh de aprovar a reforma eleitoral e realizar eleições antecipadas”, afirmou a Casa Branca em comunicado.
“Os Estados Unidos estão seriamente preocupados pelos contínuos ataques contra manifestantes, ativistas cívicos e meios de comunicação, assim como pelas restrições ao acesso à Internet no Iraque”, completa a nota.
“Nós ficaremos”
Desde a noite de sábado “as forças de segurança tentam se mover em direção a Tahrir para dispersar os manifestantes”, disse um deles.
No entanto, um paramédico que cuida dos feridos adverte: “Estamos em Tahrir e lá ficaremos”.
As forças policiais ergueram muros de concreto para separar as praças de Khalani e Tahrir.
Os manifestantes afirmam que continuarão bloqueando o país enquanto não obtiverem sua “parcela de petróleo” no Iraque, que possui uma riqueza significativa de petróleo e é o segundo maior produtor da OPEP.
O Iraque tem desemprego de cerca de 25% entre os jovens, enquanto um em cada cinco de seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza.
O movimento de protesto originalmente reivindicou empregos e melhores serviços. Agora, os manifestantes também pedem a renúncia de todos os líderes políticos e uma renovação total do sistema político implementado desde a queda do ditador Saddam Hussein em 2003.
“Banho de sangue”
A Anistia Internacional pediu em um comunicado às autoridades iraquianas que “ordenem imediatamente o fim do uso contínuo e ilegal da força letal”.
A organização também pediu que contivessem suas forças de segurança para “evitar um banho de sangue”.
Essa violência deixou mais de 12.000 feridos desde 1º de outubro. E a isso deve-se acrescentar o que muitas vozes no Iraque agora chamam de “nova república do medo”, em um país que saiu há 16 anos da ditadura do partido Baas de Saddam Hussein.
Militantes e médicos que apoiam os manifestantes afirmam estar sujeitos a uma campanha de prisões, sequestros e intimidações por forças estaduais e grupos armados.
A representante da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, afirmou que recebia “todos os dias informações sobre manifestantes mortos, sequestrados, arbitrariamente detidos, espancados ou intimidados”.
Hennis-Plasschaert acrescentou que hoje, no Iraque, “direitos fundamentais são continuamente violados”.