Novo documento coloca luz sobre ‘extensos crimes de guerra’ na Ucrânia
Relatório da Anistia Internacional compila evidências de execuções extrajudiciais e torturas cometidos durante ocupação de cidades em torno de Kiev
Em relatório publicado nesta sexta-feira, 6, a organização de direitos humanos Anistia Internacional afirmou que há evidências concretas de que tropas russas cometeram crimes de guerra, incluindo execuções extrajudiciais de civis, nos arredores da capital ucraniana, Kiev, em fevereiro e março.
De acordo com a Anistia, civis também foram vítimas de “tiros imprudentes e torturas” cometidos por forças russas durante ocupação de cidades e vilarejos em torno da capital, incluindo Bucha, onde centenas de corpos foram encontrados em valas comuns, alguns deles com roupas civis e muitos com mãos atadas.
Segundo o governo local e de acordo com imagens difundidas por veículos internacionais, os corpos apresentavam sinais de terem sido sumariamente executados. De acordo com governador da região de Kiev, Oleksandr Pavlyuk, ao menos 1.235 corpos de civis foram encontrados na região.
“Estes não são incidentes isolados. Estes são grande parte de um padrão estabelecido de forças russas quando estão em controle de uma cidade ou vilarejo”, afirmou Donatella Rovera, assessora de resposta a crises da Anistia Internacional, no documento.
O relatório afirma que há evidências de “diversos assassinatos ilegais”, incluindo 22 casos documentados de execuções extrajudiciais em Bucha. Segundo autoridades ucranianas, mais de 9.000 possíveis crimes de guerra estão sendo investigados.
Entre as evidências estão inclusive o tipo de armamento usado em algumas das execuções, como refiles especializados usados pro algumas unidades de elite do Exército russo.
A revelação da situação em Bucha, em meados de abril, resultou na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas pela suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos, sediado em Genebra, citando graves violações.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh), que está revisando vídeos e materiais recebidos sobre a situação na cidade, declarou que análises preliminares “parecem sugerir” um assassinato de civis de forma deliberada, de acordo com a porta-voz Liz Throssell.
Segundo Throssell, as imagens em que corpos aparecem com as mãos amarradas ou queimadas poderiam indicar que os agressores visavam deliberadamente essas vítimas, o que poderia elevar a gravidade dessas violações aos direitos humanos cometidas durante a invasão à Ucrânia, se os fatos forem confirmados.
“A alta comissária Michelle Bachelet já falou de possíveis crimes de guerra no contexto de bombardeios a infraestruturas civis, mas isso aparenta ser um assassinato direito de civis”, disse a porta-voz, que admitiu haver a necessidade de comprovar as imagens. “Em incidentes específicos, são necessárias análises forenses, monitoramento e coleta de informações, para determinar quem fez o quê”.
Para a Rússia, no entanto, serviços da inteligência dos EUA e do Reino Unido seguem ajudando a Ucrânia a forjar novas alegações falsas de supostos crimes de guerra cometidos no noroeste do país, embora não tenha fornecido nenhuma evidência.
“Novas falsas provocações encenadas acusando as nossas Forças Armadas de tratamento supostamente cruel da população da Ucrânia estão sendo preparadas pelo regime de Kiev sob a liderança dos serviços especiais britânicos no território da região de Sumy”, afirmou o Ministério em nota após revelações de casos em abril.