O sultão Ibrahim Sultan Iskandar assumiu, nesta quarta-feira, 31, o trono da Malásia, uma pequena nação asiática que acredita-se ser o único sistema de monarquia rotativa do mundo. A ascensão da figura moderna, um motoqueiro com fama de não ter papas na língua, ocorre num momento em que a intervenção da realeza tornou-se cada vez mais necessária para enfrentar a instabilidade política no país.
Conhecido pela sua grande coleção de carros e motos de luxo, Ibrahim e a sua família têm patrimônio avaliado em pelo menos US$ 5,7 bilhões (R$28,22 bilhões), com acervo que também inclui terras em Singapura e investimentos em várias empresas dos setores de óleo de palma, imobiliário e telecomunicações.
O sultão de ascendência malaio-britânica pertence à poderosa família real Johor, cujo chefe comanda um pequeno exército privado. Casado e com seis filhos, o novo rei costuma fazer viagens anuais por Johor em uma motocicleta Harley-Davidson, distribuindo caridade aos pobres.
Monarca “sincerão”
Ibrahim é conhecido ainda por falar abertamente sobre corrupção nos corredores do poder da Malásia e, numa entrevista ao jornal singapurense The Straits Times, em dezembro passado, o homem de 65 anos disse que não estava interessado em se tornar um “rei fantoche”.
“Há 222 [legisladores] no parlamento. Há mais de 30 milhões [habitantes] lá fora. Não estou com vocês, estou com eles”, disse ele ao jornal. “Apoiarei o governo, mas se achar que eles estão fazendo algo impróprio, direi a eles.”
Ele é visto, além disso, como um religioso moderado. Em 2017, ele ordenou que o proprietário de uma lavanderia se desculpasse por supostamente discriminar clientes não-muçulmanos.
A singular monarquia da Malásia
Nove governantes de etnia malaia revezaram-se como reis durante mandatos de cinco anos desde que a Malásia conquistou a independência do Reino Unido, em 1957.
Como ocorre na maioria das monarquias do mundo, a posição do sultão é em grande parte cerimonial, cumprindo papel de chefe da igreja (no caso da Malásia, o Islã) e do exército. Porém, nos últimos anos, o rei tem ganhado importância no cenário político fraturado do país, usando poderes discricionários e raros para reprimir a instabilidade.
Nos últimos anos, o rei precisou fazer interferências para nomear três primeiros-ministros após o colapso dos governos anteriores, e devido a um parlamento dividido – ou seja, sem líder claro, impedindo a declaração do premiê – após as eleições.
Além disso, na Malásia, o monarca tem o poder de perdoar. Em 2018, o sultão Muhammad V emitiu um perdão real a Anwar Ibrahim, que cumpriu pena de prisão por sodomia e é agora primeiro-ministro da Malásia – com quem Ibraim possui relacionamento próximo.