O curioso caso do Vietnã: o país pobre que derrotou a Covid-19
Nação do sudeste asiático não registrou uma morte sequer e deve fechar o ano com crescimento econômico
Enquanto o Brasil acumula 270.00 casos confirmados e mais de 17.000 mortes pela Covid-19, e nações desenvolvidas como os Estados Unidos, Reino Unido e Itália perderam o controle sobre a epidemia, uma nação pobre do Sudeste Asiático vem espantando o mundo.
Trata-se do Vietnã.
Com 1.100 quilômetros de fronteira com a China, origem da pandemia, o país registrou apenas 324 infectados e nenhuma morte. Isso mesmo, não houve vítimas fatais. A estratégia foi tão bem sucedida que o país deve ser um dos poucos do mundo este ano a não ter recessão. Segundo análise feita pelo economista especialista em Ásia Sian Fenner, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o PIB deve ter expansão na casa dos 2%.
Um resultado espantoso, que coloca o Vietnã no restrito clube dos que conseguiram debelar o surto antes que ele se espalhasse. São eles Coreia do Sul, Alemanha, Nova Zelândia, Portugal, Islândia e China.
Há, porém, diferença importante em relação aos seus pares. O Vietnã é pobre, tem uma população de 95 milhões de habitantes, cidades extremamente densas e infraestrutura precária. Além disso, foi arrasado por uma guerra contra os Estados Unidos há menos de 40 anos, que até hoje traz consequências.
Como o Vietnã conseguiu? O segredo está na seriedade: poucos levaram a ameaça da epidemia tão a sério quanto os vietnamitas.
A principal arma dos vietnamitas contra o patógeno foi a forma mais rigorosa da quarentena, o lockdown. A medida foi decretada logo no início, antes mesmo do vírus se espalhar. Em Hanoi, segunda maior cidade do país, entrou em vigor quando haviam somente 10 casos confirmados.
É o contrário do que fizeram chineses e italianos, que só apelaram para o lockdown como último recurso, quando as infecções já se contavam aos milhares.
O governo mobilizou ainda um exército de rastreadores para ir atrás e isolar todos os possíveis infectados. Outro contingente de 90.000 médicos foi colocado de prontidão para cuidar dos casos.
O esforço hercúleo do Vietnã evitou que o país sofresse com suas deficiências. O governo sabia que não poderia contar com uma rede de saúde pública robusta para conter a infecção, como fizeram alemães e chineses. Ho Chi Mihn, a maior cidade do país, com 8 milhões de habitantes, tem apenas 900 leitos de emergência. Ou seja, no caso de uma epidemia, o colapso da rede hospitalar aconteceria já nos primeiros dias.
Também não conta com tecnologia de ponta, como os coreanos, que puderam cadastrar e rastrear infectados através de aplicativos criados em poucos dias.
Nesse caso, apelaram para a ajuda das Forças Armadas, instituição nacional mais respeitada. Há soldados de prontidão em praticamente toda esquina nas grandes cidades para checar se as medidas de isolamento social e proteção estão sendo cumpridas.
O Partido Comunista, que controla o governo e é a única legenda política do país, passou a utilizar a mídia estatal para campanhas massivas. Celebridades do país foram convocadas para protagonizar vídeos explicativos e cartazes.
E, numa medida que provocaria grande polêmica em países do Ocidente, quem é infectado pelo novo coronavírus tem sua identidade divulgada nas redes sociais oficiais e na imprensa. A violação da identidade, defende o governo, tem como objetivo localizar todos que tiveram contato com o doente.
O Vietnã também tornou-se exemplo de solidariedade internacional. Desde janeiro, já enviou 500.000 máscaras para a Europa, assim como equipamentos de proteção para médicos do Camboja, Laos e China.
Até os Estados Unidos, algozes na dura guerra travada entre os anos 1960 e 1970, vem sendo ajudados. O Partido Comunista despachou milhares de kits de testagem para os americanos. Cada kit custa 25 dólares e apresenta o resultado em 90 minutos.
Uma tremenda ironia do destino.
Um dos cartazes espalhados pelo governo: isolamento levado a sério