Uma colaboração entre geneticistas e especialistas em conservação ambiental planeja trazer de volta a extinta ave dodô, reintroduzindo-a ao seu habitat outrora nativo nas Maurícias. Nesta sexta-feira, dia 1º, a empresa de biotecnologia e engenharia genética Colossal Biosciences, com sede nos Estados Unidos, revelou novos detalhes sobre o projeto.
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A Colossal, cujo objetivo é reverter a extinção não só do dodô, mas de múltiplas espécies, anunciou há quase um ano que passaria a trabalhar com o pássaro, avistado pela última vez em 1681. Apesar da empresa não deixar claro quando isso acontecerá, afirmou que agora está em parceria com a organização especializada em conservação Mauritian Wildlife Foundation (MWF).
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Como reverter uma extinção
Em colaboração, Colossal e Mauritian estão buscando um local adequado para as grandes aves – que não voam.
Além disso, a Colossal comunicou que Beth Shapiro, sua paleogeneticista-chefe, conseguiu sequenciar o genoma completo do dodô. A empresa afirma ainda ter sequenciado o genoma do solitário, um parente extinto do dodô da Ilha Rodrigues, bem como do pombo Nicobar, o parente vivo mais próximo do dodô, que reside em ilhas do Sudeste Asiático.
Segundo as novas informações, geneticistas descobriram que as células que atuam como precursoras de ovários ou testículos no pombo Nicobar podem crescer com sucesso em um embrião de galinha. Agora, cientistas estão avaliando se elas (as chamas células germinativas primordiais, ou PGCs) podem se transformar em espermatozoides e óvulos, passo vital na criação de animais híbridos pela reprodução.
Os cientistas já usaram PGCs para criar uma galinha gerada por um pato. No caso dos dodôs, a Colossal planeja:
- Comparar os genomas da ave e do solitário com os do pombo Nicobar para identificar como eles diferem entre si;
- Editar os PGCs de um Nicobar para expressar as características físicas de um dodô;
- Os PGCs editados serão inseridos nos embriões de uma galinha e de um galo estéreis;
- A galinha e o galo serão capazes de se reproduzir e, em teoria, seus descendentes vão se assemelhar com os dodôs.
“Fisicamente, o dodô restaurado será indiscernível do que sabemos sobre a aparência do dodô”, disse Matt James, diretor animal da Colossal.
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A nova casa dos dodôs
Enquanto o laboratório da Colossal continua sua investigação, uma equipe da Mauritian Wildlife Foundation (MWF) se preocupa com o novo lar das aves. Vikash Tatayah, diretor de conservação da fundação, disse que está planejando um estudo de viabilidade para as ilhas Maurícias.
“O local ideal não existe”, disse Tatayah. “As Maurícias não são uma ilha grande. Tem 60 por 30 quilômetros, e grande parte da vegetação já foi substituída por cana-de-açúcar, edifícios, aldeias e reservatórios.”
Porém, o Parque Nacional Black River Gorges, com seus bolsões de floresta restaurada, será considerado. Outras opções são as reservas naturais das vizinhas Ilha Redonda e a ilhota de Aigrettes.
Lá, porém, não vivem predadores naturais de aves do tamanho dos dodôs. E espécies invasoras, como ratos, gatos selvagens, porcos e cães, podem precisar de ser “excluídas, realojadas ou mesmo controladas”, segundo a MWF. Uma vezes controlados os fatores humanos e animais, o dodô não deve ter problemas se reintegrando ao ambiente, avaliam os especialistas do projeto.
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Por que reviver o dodô
O dodô foi avistado pela última vez em 1681, devido a uma combinação de predação, de um lado, por humanos, e do outro, dos animais introduzidos por humanos, tornando-se um caso clássico de extinção.
De acordo com a Colossal, seu regresso às Maurícias pode beneficiar o meio ambiente e ecossistema. Especialistas alegam que o projeto pode favorecer “relações mutualistas que se romperam desde a perda do dodô”. O grande bico do pássaro, por exemplo, é um indicador de que ele consumia frutos grandes e desempenhava um papel importante na dispersão das sementes.
Os envolvidos no projeto acreditam que as técnicas do projeto dodô podem, depois, ajudar a restaurar outras espécies de aves. Além disso, o processo pode dar um impulso a esforços de conservação mais amplos nas Maurícias.