Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

O presidente e o monstro: os bastidores do escândalo de Fernández

Investigação de corrupção revela que o ex-presidente argentino agredia a esposa enquanto exercia seu desastroso mandato

Por Ricardo Ferraz 18 ago 2024, 08h00

Quando deixou a Casa Rosada em dezembro do ano passado, sob reprovação de 80% do eleitorado e uma inflação de 150% ao ano, Alberto Fernández buscava um destino melancólico, mas usual entre os chefes de Estado impopulares: dar tempo ao tempo, até que um contexto menos desfavorável lhe permitisse reescrever a própria biografia. O plano incluía até aulas na universidade Aleph, em Madri, mas foi atropelado por um escândalo. Ao que tudo indica, Fernández tinha por hábito espancar a mulher com quem viveu por oito anos, em pleno exercício do cargo.

O caso veio à tona durante a investigação da participação dele em um esquema de corrupção na divisão de seguros do Banco de la Nación, instituição financeira estatal. Ao apreender o celular de uma secretária da Presidência da República cujo marido também estaria envolvido na tramoia, os investigadores descobriram mensagens de texto da ex-primeira-dama, Fabiola Yáñez, ao então marido. “Faz três dias que você me bate”, escreveu.

O aparelho também continha fotos dela com hematomas no rosto e no braço. De acordo com a imprensa portenha, a agressão ocorreu em 2021, na Quinta de Olivos. Em crise, Fabiola e Fernández estariam separados, mas mantinham as aparências, com ela ocupando a ala da residência oficial destinada aos hóspedes. Durante uma discussão acalorada, o presidente partiu para as vias de fato e só parou de bater em Fabiola quando dois funcionários públicos se interpuseram entre os dois.

Mesmo se tratando de alguém afastado do poder, o entrevero agitou a política argentina. Javier Milei, crítico feroz dos movimentos feministas, não perdeu a chance de dançar um tango sobre a pauta identitária do peronismo, que chegou a levar até a linguagem inclusiva para os comunicados oficiais. “A solução para a violência contra as mulheres não é culpar os homens por serem homens”, declarou na plataforma X. Diante da repercussão negativa, políticos da União pela Pátria viraram as costas para o companheiro de partido e apresentaram uma representação solicitando que as investigações prossigam. Eleita como vice de Fernández, Cristina Kirchner atacou o ex-aliado, mas defendeu o próprio campo político, alegando que “a violência contra a mulher não tem bandeira partidária”. Acuado, o ex-presidente concedeu uma entrevista ao El País, em que se limitou a afirmar que jamais bateu na mulher, mas sem oferecer uma explicação plausível para o ocorrido. “O episódio aprofunda o processo de descrença na política que está em marcha na Argentina desde as eleições”, diz o cientista político Daniel Montoya.

Continua após a publicidade

Fernández e Fabiola se conheceram em Palermo, em 2013, quando o político deu uma palestra na universidade onde ela estudava. A jovem pediu para fazer uma entrevista para um trabalho acadêmico e os dois começaram a namorar. A diferença de idade de 22 anos não foi um impeditivo. Em depoimento à Justiça, a ex-­primeira-dama contou que, em 2016, o parceiro, com quem nunca se casou formalmente, a obrigou a fazer um aborto. Depois disso, ela se tornou dependente de álcool. Originalmente, a crise que descambou para a pancadaria estaria relacionada a fotos de mulheres nuas que Fernández mantinha no celular e que foram reveladas por acaso, enquanto Francisco, o filho de 2 anos e meio do casal, brincava com o aparelho. A história envolve até uma radialista local com quem o ex-presidente teria tido um relacionamento extraconjugal. Fernández está impedido de sair do país e de se aproximar de Fabiola, e pode ficar até seis anos preso, em caso de condenação. A Justiça decidirá, mas o público já tem seu veredito.

Com reportagem de Paula Freitas

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2024, edição nº 2906

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

2 meses por 8,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.