Gleb Karakulov, ex-oficial do serviço secreto de segurança presencial da Rússia, acusou na terça-feira, 3, o presidente Vladimir Putin de ser um “criminoso” de guerra. A fala foi feita em entrevista pelo Dossier Center, um grupo investigativo financiado pela oposição russa, e divulgada pela Associated Press, com detalhes sobre o comportamento dentro do Kremlin após a invasão à Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Karakulov era responsável por estabelecer comunicações seguras para o presidente russo e o primeiro-ministro do país, Mikhail Mishustin. Ele integrou a equipe entre 2019 e o final de 2022, quando fugiu para a Turquia pelo que disse ser uma oposição moral ao conflito na Ucrânia e medo de morrer.
“Nosso presidente virou um criminoso de guerra”, disse. “É hora de encerrar essa guerra e acabar com o silêncio”.
Em março, monitores de direitos humanos das Nações Unidas relataram dezenas de assassinatos de prisioneiros de guerra ucranianos desde a invasão. Em documento, também citaram uso de tortura, escudos humanos e outros abusos que podem equivaler a crimes de guerra.
No período em que atuou em uma unidade de campo do Departamento de Comunicações Presidenciais do Serviço de Proteção Federal, Karakulov fez mais de 180 viagens à serviço de Putin que, ao contrário da especulação, não apresenta problemas de saúde e participou de reuniões frequentes fora do Grande Palácio do Kremlin.
As suspeitas de corrupção também aumentaram o seu descontentamento com o governo russo. Segundo o ex-oficial, o seu trabalho o levou a visitar resorts de luxo em diferentes países, nos quais a delegação que acompanhava o presidente gastava, apenas com as diárias, valores superiores ao salário que ele recebia como oficial.
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Além disso, o oficial informou que o presidente russo não é adepto às tecnologias e, por isso, não utiliza a internet. “Todas as informações que ele recebe são apenas de pessoas próximas a ele. Ou seja, ele vive numa espécie de vácuo de informação”, relatou. A antipatia tecnológica teria sido agravada com o início da guerra, em uma crescente paranoia de Putin sobre a segurança.
O ex-oficial alega que, antes mesmo da invasão, o líder russo passou a evitar aviões e viajar em um trem blindado especial, que se parece com outro qualquer para impedir o seu reconhecimento. O Kremlin teria, ainda, demandado um bunker na embaixada russa no Cazaquistão, que também foi equipada com uma linha segura de comunicações. “Eu entendo que ele está simplesmente com medo”, disse.
Em outubro do ano passado, durante uma série de reuniões oficiais em Astana, capital do Cazaquistão, Karakulov viu uma janela de oportunidade para fugir. Sua esposa e filha chegaram ao país dois dias depois da delegação e ficaram hospedadas em um local separado.
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Com futuro incerto, Karakulov é um dos poucos cidadãos com patente a vir a público para denunciar as ações de Moscou. Em setembro, Mikhail Zhilin, engenheiro de um centro regional do FSO na Sibéria, fugiu por uma floresta do Cazaquistão para evitar o recrutamento russo. As autoridades locais recusaram, contudo, o pedido de asilo de Zhilin e o enviaram de volta à Rússia, onde foi condenado a 6 anos e meio em uma colônia penal.