O que se sabe sobre os quatro objetos voadores abatidos pelos EUA
Depois de militares americanos derrubarem um balão espião chinês, ocorreram outros três incidentes semelhantes, levantando questões de segurança
Uma operação militar para derrubar um enorme balão chinês, que espionava os Estados Unidos, segundo autoridades americanas, na costa da Carolina do Sul, foi seguida pela queda de dois objetos menores sobre o Alasca e o Canadá – e outro sobre Michigan, no domingo 12.
A série de medidas do Pentágono para abater objetos voadores não identificados levantou preocupações sobre a segurança do país e prejudicou ainda mais suas relações com a China. Aqui está o que se sabe até agora sobre os incidentes.
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Os quatro alvos
A história começa no final de janeiro, quando um balão chinês gigante – que as autoridades americanas disseram ser um aparelho de vigilância – flutuou por dias nos céus dos Estados Unidos antes de ser abatido em 4 de fevereiro por um avião militar a jato na costa da Carolina do Sul. A China insistiu que o balão estava apenas realizando pesquisas meteorológicas e se desviou do curso.
O Pentágono disse que o aparato tinha uma gôndola do tamanho de três ônibus, que pesava mais de uma tonelada. Ele também estava equipado com várias antenas e tinha painéis solares grandes o suficiente para alimentar vários sensores de coleta de informações.
Depois, na sexta-feira 10, aviões caça dos Estados Unidos derrubaram outro objeto no norte do Alasca, que estava “dentro do espaço aéreo soberano” e “sobre as águas territoriais” do país, segundo militares. Esse não possuía qualquer sistema de propulsão ou controle, acrescentaram as autoridades.
No sábado 11, um jato F-22 dos Estados Unidos, agindo sob ordens de oficiais americanos e canadenses, derrubou um “objeto aerotransportado de alta altitude” sobre o território central de Yukon, no Canadá. Segundo autoridades, ele representava uma “ameaça para voos civis”.
O Canadá descreveu o aparelho como um objeto cilíndrico, e menor que o balão chinês, o primeiro da série de incidentes. A ministra da Defesa canadense, Anita Anand, não quis especular se ele se originou na China.
O segundo e o terceiro objetos, segundo autoridades de defesa, eram do tamanho de um Fusca.
No domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ordenou que aviões de guerra americanos derrubassem um objeto não identificado sobre o lago Huron, em Michigan, “com muita cautela”.
O objeto foi descrito como uma estrutura octogonal, com cordas penduradas, e não foi considerado uma ameaça militar a nada no solo, mas poderia representar um perigo para a aviação civil porque estava voando a cerca de 6 mil metros de altura.
O líder da maioria no Senado dos Estados Unidos, Charles Schumer, que foi informado pelo governo Biden após o incidente no Yukon, disse no domingo – antes do incidente no Lago Huron – que os dois objetos anteriores provavelmente eram balões, “mas muito menores que o primeiro”, ambos voando a cerca de 12.200 metros de altura.
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Por enquanto, apenas o primeiro objeto foi atribuído a Pequim.
O comandante militar dos Estados Unidos que protege o espaço aéreo do país disse no domingo que não conseguiu determinar como os últimos três objetos abatidos permaneceram no ar, acrescentando que não os chamou de balões “por um bom motivo”.
O que foi recuperado até agora
Equipes militares trabalhando em aviões, barcos e minissubmarinos estão vasculhando as águas rasas da Carolina do Sul em busca do primeiro objeto, e imagens mostraram a recuperação de um grande pedaço do balão chinês. O FBI tem custódia dos destroços para análise.
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As operações para recuperar o segundo objeto, no gelo marinho perto de Deadhorse, no Alasca, também estão ativas. “As condições climáticas do Ártico, incluindo vento frio, neve e luz diurna limitada, são um fator de dificuldade”, disseram os militares.
Equipes de recuperação apoiadas por uma aeronave de patrulha canadense CP-140 estão procurando por destroços do terceiro objeto no Yukon, disse o ministério da Defesa do país no sábado. O Pentágono disse que o FBI estava trabalhando em estreita colaboração com a polícia canadense.
Espera-se que militares americanos, com equipamentos de mergulho especializados projetados para as águas extremamente frias do Lago Huron, em Michigan, sejam mobilizados rapidamente para procurar destroços do quarto objeto abatido.
Por que tantos objetos ao mesmo tempo?
Os Estados Unidos disseram que o primeiro balão chinês fazia parte de uma “frota” de vigilância que abrange cinco continentes. Alguns analistas dizem que este pode ser o início de uma ampla rede de espionagem da China, visando capacidades militares estrangeiras, antes de possíveis tensões envolvendo a ilha semiautônoma de Taiwan nos próximos anos.
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Autoridades disseram que os serviços de inteligência dos Estados Unidos e do Canadá recebem constantemente grandes quantidades de dados brutos e, em geral, se concentram na ameaça de possíveis mísseis, não em objetos que se movem lentamente, como balões.
“Agora, é claro, começamos a procurar por [objetos lentos]. Então, acho que provavelmente estamos encontrando mais coisas”, disse Jim Himes, o líder democrata do comitê de inteligência da Câmara, à emissora americana NBC.
O Pentágono também afirmou que passou a examinar radares mais de perto desde a descoberta do primeiro balão.
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Autoridades disseram que agora se sabe que três balões sobrevoaram brevemente o território dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump – não detectados na época – e um, antes do que foi registrado na semana retrasada, no mandato de Biden.
Relações desgastadas
Os Estados Unidos cancelaram a visita do seu secretário de Estado, Antony Blinken, à China, que tinha o objetivo de estabilizar relações já tensas entre os dois países, e também sancionaram seis entidades chinesas que supostamente apoiam programas militares de espionagem com balões.
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Pequim denunciou a derrubada do primeiro balão, dizendo que a operação “violou seriamente a prática internacional”. Além disso, a China reservou-se o direito de “usar os meios necessários para lidar com situações semelhantes”.
Não houve reação do governo chinês às últimas operações para abater os três objetos seguintes.