O saldo positivo que Lula espera tirar da viagem à China
Viagem carrega grande expectativa para a agenda econômica em setores como agronegócio, infraestrutura e tecnologia
Depois de um primeiro dia de trabalhos em Xangai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Pequim nesta quinta-feira, 13, dando continuidade a uma viagem de grande expectativa para a agenda econômica em setores como agronegócio, infraestrutura e tecnologia. Até a sexta-feira, o governo brasileiro deve assinar pelo menos 20 acordos com os chineses.
Na capital chinesa, Lula irá se encontrar com o presidente chinês, Xi Jinping, em uma aguardada reunião para falar sobre seu acordo de paz para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. É esperado que ambos os países façam uma sinalização diplomática de busca pela paz, mas a postura da China sobre a guerra não deve mudar substancialmente – ainda mais considerando a recente visita de Xi a Moscou, para encontro com o presidente Vladimir Putin.
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Na última quinta-feira 6, em café com jornalistas, Lula defendeu o fim da guerra, que, para ele, “não tem justificativa” para continuar. O presidente sugeriu ainda que a Ucrânia poderia ceder a península da Crimeia à Rússia em troca de um acordo de paz. A declaração provocou críticas de autoridades ucranianas, que defendem a soberania e a integridade do país.
O governo também pretende usar a ida do presidente ao país para fazer uma virada de página na relação com os chineses, depois das hostilidades do governo de Jair Bolsonaro. Em discurso durante a posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics, o petista afirmou que “o Brasil voltou depois de uma ausência inexplicável”.
No âmbito econômico, no entanto, que a viagem se mostra mais importante e pode render mais frutos. A China é o principal parceiro comercial do Brasil: 27% de tudo o que foi exportado pelo país no ano passado teve como destino o mercado chinês.
Especialistas ressaltam a oportunidade do Brasil de expandir a exportação de carnes para o gigante asiático, com a autorização e a abertura de novas plantas de produção que tenham permissão para que seu produto seja enviado e consumido pelos chineses.
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Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a China é o principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro desde 2013. No ano passado, 31,9% da exportação nacional de produtos do setor teve Pequim como destino.
Já na infraestrutura, a China é, também, um dos principais investidores no Brasil. De acordo com o Itamaraty, entre 2007 e 2021, o Brasil foi o quarto principal destino internacional de investimentos chineses (4,8% do total) e o principal na América do Sul (48%).
Durante sua passagem por Xangai, Lula se reuniu com o presidente do conselho da maior empresa de construção civil do país, a China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou. No Brasil, a CCCC investe em obras de infraestrutura, como a construção da ponte Salvador-Itaparica.
Segundo o Itamaraty, Tongzhou expressou seu desejo de aumentar a cooperação entre empresas brasileiras e chinesas – e também propôs a criação de mecanismos de troca direta entre o yuan (moeda chinesa) e o real, tirando o dólar da jogada.
Parte da comitiva brasileira na Ásia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a Casa Civil está preparando possíveis investimentos em infraestrutura e um dos principais locais de captação será a China. A estratégia é “conciliar crescimento econômico com infraestrutura”, disse.
“As empresas da China já falam com cada vez mais liberdade da possibilidade de realizar investimentos em outros países e não centralizar aqui (em seu território). Nós temos uma vantagem que pouquíssimos países do mundo têm, que é uma matriz (energética) muito limpa”, afirmou Haddad.
O presidente brasileiro reuniu-se ainda com o CEO da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A empresa produz ônibus elétricos e está negociando uma fábrica de automóveis elétricos na Bahia, em Camaçari.