‘Objetivo dos EUA no Afeganistão nunca foi construir um país’, diz Biden
Presidente reiterou decisão de retirar forças americanas do país, mesmo que o colapso de Cabul tenha sido mais rápido que o imaginado
Em seu primeiro discurso desde que o Talibã tomou Cabul, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que Washington “jamais teve o objetivo de construir um país” no Afeganistão e reiterou que ainda defende veementemente sua decisão de retirar forças americanas do país, mesmo que o colapso tenha sido mais rápido que o imaginado.
“Quero lembrar a todos como chegamos aqui. Fomos ao Afeganistão há quase 20 anos para impedir que a al Qaeda voltasse a nos atacar, e conseguimos fazer isso”, enfatizou o democrata nesta segunda-feira, 16. “Nosso objetivo nunca foi construir um país. Nunca foi a criação de uma democracia unificada e centralizada”.
O grupo extremista começou sua investida para retomar o controle do Afeganistão em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras do país, sobretudo americanas. No último dia 11, o serviço de inteligência dos EUA apontou que os extremistas poderiam tomar a capital em 90 dias, porém a sua queda ocorreu mais rápido do que o esperado.
Após conquistar uma série de capitais provinciais na última semana, os fundamentalistas sitiaram Cabul no último domingo, movimento que fez com que o presidente Ashraf Ghani partisse para o Uzbequistão com sua esposa e dois assessores próximos. Poucas horas depois, o grupo entrou no Palácio Presidencial e fez um pronunciamento à mídia afirmando que tem o total controle sobre o país.
Com isso, o grupo armado voltou ao poder depois de 20 anos de sua expulsão. A retirada das tropas americanas ordenada primeiro pelo ex-presidente Donald Trump e seguida por Biden é apontada como o principal motivo para a retomada de força dos extremistas.
Sobre a situação caótica no país, Biden disse ter enfrentado uma escolha entre um acordo para retirada de forças americanas ou o envio de milhares de soldados a mais para uma “terceira década” de guerra, dizendo não querer repetir os mesmos erros do passado.
Segundo o presidente americano, a rápida queda do governo no país mostra que “mais um ano, mais cinco anos ou mais 20 anos” de operações militares dos EUA não teriam mudado a situação, já que não pode oferecer às forças afegãs “a vontade de lutar”.
“Aqui está no que acredito profundamente: é errado ordenar que as tropas americanas avancem, quando as próprias forças armadas do Afeganistão não o fizeram”, disse. “A verdade é, isso se desenrolou mais rápido que o antecipado. E aí, o que os líderes afegãos fizeram? Desistiram e abandonaram o país”.
Diante de cenas de desespero e aflição registradas em Cabul nesta segunda-feira, quando milhares de pessoas seguiram ao aeroporto local para tentar fugir do país, Biden autorizou o envio de cerca de mais mil soldados, aumentando para 7.000 o número de militares americanos no país.
O anúncio foi feito pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, em declarações à imprensa americana. Esses mil soldados adicionais pertencem à 82ª equipe de brigada aérea de combate e serão deslocados do Kuwait ao Afeganistão.
Kirby explicou que as forças dos EUA mobilizadas em Cabul trabalharão para “restabelecer a segurança” em meio às “lacunas” na parte civil do aeroporto da capital. De acordo com o Pentágono, atualmente há 2.500 militares americanos no aeroporto e outros 500 chegarão nas próximas horas.
“Prevemos que nas próximas horas seremos capazes de restaurar as operações aéreas no aeroporto”, disse Kirby. O porta-voz também afirmou que os EUA não querem que mais ninguém seja ferido no caos ocorrido no aeroporto, onde centenas de pessoas tentaram fugir do Afeganistão ao tentarem embarcar em um avião que estava prestes a decolar.
Kirby confirmou que houve dois incidentes no aeroporto nos quais as forças americanas tiveram de abrir fogo diante de “ameaças hostis” e mataram duas pessoas.
Segundo o porta-voz, relatórios preliminares indicam que um soldado americano pode ter sido ferido em meio ao caos no terminal aéreo, mas a informação ainda não foi confirmada.
Com a deterioração da situação no Afeganistão, o chefe do Comando Central das Forças Armadas dos EUA (CENTCOM), general Kenneth McKenzie, se reuniu com líderes talibãs em Doha, no Catar, na segunda-feira para discutir a situação no país centro-asiático.