ONU diz ter documentado execuções de prisioneiros de guerra na Ucrânia
Relatório publicado nesta sexta-feira também relata uso de tortura, escudos humanos e outros abusos que podem equivaler a crimes de guerra
Um novo relatório de monitores de direitos humanos das Nações Unidas relata dezenas de assassinatos de prisioneiros de guerra ucranianos e russos desde que a Rússia invadiu a vizinha Ucrânia, em fevereiro do ano passado. O documento, publicado nesta sexta-feira, 24, também relata o uso de tortura, escudos humanos e outros abusos que podem equivaler a crimes de guerra.
A primeira análise completa da missão do time de direitos humanos da ONU na Ucrânia foi baseada em entrevistas com cerca de 400 prisioneiros de guerra, metade deles ucranianos que foram libertados e a outra metade russos mantidos em cativeiro na Ucrânia. Os especialistas afirmam que não tiveram acesso aos prisioneiros de guerra mantidos pelos russos, identificados em 48 localidades. Entretanto, cerca de 40 execuções sumárias ao longo dos 13 meses de guerra foram documentadas.
“Estamos profundamente preocupados com a execução sumária de até 25 prisioneiros de guerra russos e pessoas ordenadas a combater pelas forças armadas ucranianas”, disse Matilda Bogner, chefe da missão de monitoramento da ONU.
Bogner afirmou que existem abusos dos dois lados do conflito, mas que a raiz da violência contra civis e prisioneiros de guerra estava na invasão russa. Segundo ela, promotores ucranianos estão investigando alguns casos, mas nenhum foi levado ainda ao tribunal.
Mais de 9 em cada 10 dos entrevistados relataram abuso das tropas russas, enquanto cerca de metade dos prisioneiros testemunhou abuso das tropas ucranianas, segundo o relatório.
“Em relação ao tratamento dos prisioneiros de guerra ucranianos, também estamos profundamente preocupados com a execução sumária de 15 prisioneiros de guerra ucranianos logo após serem capturados pelas forças armadas russas”, disse. “O Grupo Wagner – empreiteiros militares e de segurança – perpetrou 11 dessas execuções”.
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Outros cinco casos em que prisioneiros de guerra ucranianos morreram após serem torturados foram documentados, além de quatro casos de morte devido à falta de atenção médica durante a prisão. O relatório destaca que os dados divulgados são baseados apenas em casos confirmados, e o número real pode ser ainda maior.
O relatório também mostra que os abusos contra os direitos humanos não afeta somente os prisioneiros de guerra. Crianças da cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, foram enviadas para um “acampamentos de verão” na Rússia com o consentimento de seus pais, mas não voltaram para casa como esperado após o período de férias.
Cerca de 200 crianças acampadas na cidade russa de Krasnodarskyi Krai permaneceram depois do verão e foram matriculadas em uma escola local. Em outubro, autoridades russas disseram que cerca de 2.500 crianças da Ucrânia viviam em centros de acomodação temporários na Rússia, e algumas permaneceram lá. Ainda não está claro quantas crianças desacompanhadas foram colocadas em campos, alojamentos temporários ou cuidados institucionalizados na Rússia, bem como quantos jovens foram transferidos para lá com seus pais.
Ao todo, segundo a ONU 8.317 civis morreram na Ucrânia desde a invasão da Rússia, em 24 de fevereiro de 2022. Outras 13.809 pessoas ficaram feridas durante os conflitos. A organização também afirmou que esses números são uma subestimação das baixas reais, já que o acesso é difícil a certas áreas.