ONU, líderes mundiais e oposição israelense condenam plano para controlar Cidade de Gaza
'Desastroso', 'mais destruição e sofrimento', 'deve ser interrompido imediatamente': as reações à decisão de ampliar ofensiva foram todas críticas e veementes

Depois do gabinete político e de segurança de Israel aprovar, nesta sexta-feira, 8, um plano para assumir o controle da Cidade de Gaza, no norte do enclave, as Nações Unidas, líderes mundiais e autoridades da oposição israelense, bem como familiares de reféns em posse do Hamas, se manifestaram para condenar veementemente a decisão.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, exigiu que “o plano do governo israelense para uma tomada militar completa da Faixa de Gaza ocupada deve ser imediatamente interrompido”.
“Isso contraria a decisão da Corte Internacional de Justiça de que Israel deve pôr fim à sua ocupação o mais rápido possível, à concretização da solução acordada de dois Estados e ao direito dos palestinos à autodeterminação”, afirmou em comunicado.
Na Alemanha, o governo tomou a enfática decisão de suspender todas as aprovações de exportação de artefatos militares que possam ser usados na Faixa de Gaza até novo aviso. O chanceler do país, Friedrich Merz, que até então era um dos mais ferrenhos defensores de Israel na Europa, afirmou que era direito do país fazer com que o Hamas entregue as armas e liberte os reféns, mas “o governo alemão acredita que a ação militar ainda mais dura na Faixa de Gaza, decidida pelo gabinete israelense na noite passada, torna cada vez mais difícil imaginar como esses objetivos podem ser alcançados”.
Segundo relatório de junho, entre 7 de outubro de 2023, quando começou a guerra em Gaza, e 13 de maio de 2025, foram concedidas licenças de exportação de equipamentos militares para Israel no valor de 485 milhões de euros (mais de R$ 3 bilhões).
Enquanto isso, a ministra das Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, disse estar “extremamente preocupada” com a iminente fome em Gaza, insistindo que o país espera um cessar-fogo imediato em Gaza e a libertação imediata dos reféns israelenses. Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, declarou que a decisão de Israel de intensificar ainda mais sua ofensiva é equivocada e instou o governo de Benjamin Netanyahu a reconsiderar os planos.
“Essa ação não contribuirá em nada para pôr fim a este conflito ou para garantir a libertação dos reféns. Só trará mais derramamento de sangue. A cada dia, a crise humanitária em Gaza se agrava e os reféns tomados pelo Hamas são mantidos em condições terríveis e desumanas. O que precisamos é de um cessar-fogo, um aumento na ajuda humanitária, a libertação de todos os reféns pelo Hamas e uma solução negociada”, afirmou o premiê britânico em comunicado.
A Turquia instou a comunidade internacional a impedir o plano de Israel de assumir o controle da Cidade de Gaza, afirmando que se trata de um “forte golpe” para a paz e a segurança e que visa “deslocar à força os palestinos de suas próprias terras”. A China também expressou “sérias preocupações”, instando o governo israelense a “cessar imediatamente suas ações perigosas”.
“Gaza pertence ao povo palestino e é parte inseparável do território palestino”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês à agência de notícias AFP em mensagem. “A maneira correta de aliviar a crise humanitária em Gaza e garantir a libertação dos reféns é um cessar-fogo imediato”, acrescentou.
A Espanha condenou em termos fortes a decisão do governo israelense de intensificar a ocupação militar de Gaza. O ministro das Relações Exteriores do país, José Manuel Albares, afirmou que “isso só causará mais destruição e sofrimento”, pedindo um cessar-fogo permanente, a entrada imediata e massiva de ajuda humanitária no território e a libertação de todos os reféns.
Na Escócia, o primeiro-ministro John Swinney, também disse que o plano “gerará ainda mais sofrimento humano”. “A decisão do governo israelense de tomar o controle da Cidade de Gaza é completa e totalmente inaceitável”, sublinhou.
Em Israel, o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos acusou o governo israelense de condenar os cativos restantes em Gaza “à morte”, de acordo com o jornal local The Times of Israel. Em declaração relativa ao plano divulgado pelo gabinete de segurança israelense, o grupo afirmou que a decisão foi “uma declaração oficial de abandono dos reféns, ignorando completamente os repetidos avisos do escalão militar e o claro desejo da maioria da população israelense”.
O fórum também acusa o governo de agir contra o interesse nacional com uma atitude “tola” de “engano e negligência moral e de segurança imperdoável”, que aproxima Israel de um “desastre colossal”.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, também condenou duramente a decisão do gabinete de segurança, qualificando-a de “um desastre”, e acusou os ministros da Segurança Interna e das Finanças, Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, ambos de extrema direita, de arrastarem o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para algo que era “exatamente o que o Hamas queria”.
“Em total contradição com a opinião das forças armadas e de segurança, sem considerar a erosão e o esgotamento das forças de combate, Ben Gvir e Smotrich arrastaram Netanyahu para uma ação que levará meses, levará à morte de reféns, à morte de muitos soldados, custará dezenas de bilhões aos contribuintes israelenses e levará a um colapso político”, disse Lapid em comunicado. “Era exatamente isso que o Hamas queria: que Israel ficasse preso no campo de batalha, sem objetivo, sem definir o cenário do dia seguinte, numa ocupação inútil que ninguém entende para onde vai.”
Yair Golan, líder do Partido Democrata israelense, também afirmou que a decisão do gabinete de segurança significa que “mais reféns serão abandonados à morte”.
“(Netanyahu) é fraco, facilmente pressionado, sem capacidade de tomada de decisão e sem capacidade de fazer a ponte entre o que o nível profissional apresenta e o grupo de messianistas que controla o governo”, disparou durante entrevista à Rádio do Exército de Israel contra o primeiro-ministro, referindo-se à sua coalizão de extrema direita.
Golan descreveu a decisão como “um desastre que vai reverberar por gerações”.
“Nossos filhos e netos continuarão patrulhando os becos de Gaza, pagaremos centenas de bilhões ao longo dos anos, e tudo isso por razões de sobrevivência política e visões messiânicas”, afirmou.