A Organização das Nações Unidas vai permanecer no Afeganistão para levar ajuda à população apesar das restrições do Talibã a funcionárias mulheres, confirmou nesta terça-feira, 2, o secretário-geral da organização, António Guterres, que alertou para escassez de recursos para operações no país.
Após uma reunião em Doha com representantes de mais de 20 países com o objetivo de discutir uma abordagem internacional comum para o Afeganistão, Guterres afirmou que as preocupações com a estabilidade do país estão crescendo.
“Ficamos, entregamos e estamos determinados a buscar as condições necessárias para continuar entregando… Os participantes concordaram com a necessidade de uma estratégia de engajamento”, disse.
O anúncio ocorre depois de a ONU alertar que deixaria o país caso o Talibã não removesse uma lei que proibia que mulheres afegãs trabalhassem para a organização. De acordo com a ONU, a proibição é uma violação aos direitos humanos.
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“Nunca ficaremos calados diante de ataques sistêmicos sem precedentes aos direitos de mulheres e meninas”, completou Guterres.
A ministra de Estado das Relações Exteriores do Paquistão, Hina Rabbani Khar, que participou da reunião em Doha, afirmou que ameaçar ou isolar as autoridades do Talibã não eram soluções pragmáticas para os países que buscam aliviar as crises humanitárias do país. Segundo ela, desde que o Talibã assumiu o controle do Afeganistão, há cerca de 20 meses, o movimento se tornou “mais ideológico”.
“Qual é a alternativa? Essa é a minha pergunta para aqueles que afirmam que (o desengajamento) é possível”, disse Khar à Reuters. “Os 40 milhões de afegãos comuns… estão recebendo a realidade que suas decisões criaram. E sabemos que nos últimos 20 meses, ninguém parece tê-los ajudado muito bem.”
A ONU ainda alertou para um grave déficit nas promessas financeiras para seu apelo humanitário para 2023. O financiamento foi feito em pouco mais de 6%, ficando abaixo dos US$ 4,6 bilhões, ou R$ 23,2 bilhões, solicitados para um país em que a maioria da população vive na pobreza.
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Guterres afirmou que a reunião não teve como objetivo reconhecer a administração do Talibã no Afeganistão, o que até o momento nenhum país fez formalmente. Porém, se demonstrou disposto a encontrar as autoridades do Talibã quando fosse “o momento certo para fazê-lo, mas hoje não é o momento certo”.
O Talibã afirma que respeita o direito das mulheres de acordo com sua interpretação da lei islâmica e que o território do Afeganistão não seria usado para militância ou violência contra outras nações.