O Parlamento de Hong Kong se reuniu, nesta quarta-feira, 19, pela primeira vez desde as grandes manifestações contra o projeto de lei sobre extradições para a China. A sessão foi tensa, marcada por fortes críticas da oposição contra o gerenciamento da crise por parte do Executivo pró-Pequim.
Nos últimos dez dias, a ex-colônia britânica foi palco de um movimento de protesto de magnitude histórica contra o projeto de lei, que busca autorizar as extradições para a China continental. A medida está suspensa, sem previsão de ser retomada.
Em uma acalorada sessão no Conselho Legislativo (LegCo, o Parlamento local), o secretário de Segurança de Hong Kong, John Lee, sofreu fortes críticas da oposição pelo uso da força policial, especialmente na gigantesca manifestação de 12 de junho.
Muitos representantes da oposição se vestiram de preto e exibiram uma flor branca para homenagear um militante que morreu ao cair de um prédio no sábado 15. O ativista instalava uma faixa reivindicando a retirada total do projeto de lei quando se acidentou.
Outros políticos penduraram cartazes em seus gabinetes, onde se podia ler: “Retirada! Retirada!”.
“Estamos tristes que algumas pessoas tenham ficado feridas, porque estavam expressando sua opinião”, declarou Lee, que voltou a apresentar as desculpas em nome do governo pela polêmica provocada pelo projeto de lei. Ele reafirmou, porém, que os policiais reagiram às ameaças dos manifestantes.
A oposição considerou o argumento utilizado pelo ministro inaceitável. “A polícia está bem treinada. Vocês têm todos os equipamentos e dizem que a polícia estava ameaçada”, rebateu a deputada pró-democracia Claudia Mo, acrescentando que “isso não é nada convincente”.
No domingo 16 de junho, 2 milhões de pessoas saíram às ruas de Hong Kong na maior manifestação popular na China desde os protestos da Praça da Paz Celestial em Pequim, em 1989.
Desde o início, contudo, a líder do Executivo, Carrie Lam, disse que sua intenção era submeter o texto sobre a política de extradições ao LegCo como previsto, apesar das manifestações.
No dia 12, os deputados não conseguiram ingressar na Câmara, que teve sua entrada bloqueada pelos manifestantes. Para repelir a multidão que tentava “tomar” o LegCo, a polícia usou gás lacrimogêneo, cassetetes, gás pimenta, balas de borracha, entre outros recursos.
Frente à comoção causada pela violenta repressão policial, registrada em vídeos que viralizaram nas redes sociais, Lam anunciou, no último sábado, 15, a suspensão do texto. Ontem, apresentou suas “mais sinceras desculpas” pela crise, ignorando os pedidos por sua renúncia.
Nesta quarta, um representante da oposição anunciou que apresentaria uma moção de censura contra Lam. A reunião foi suspensa até quinta-feira 20, e a moção acabou não sendo submetida à Casa.
“Este enorme caos é um espetáculo que não quero voltar a ver”, disse o presidente do LegCo, Andrew Leung, pedindo ao Executivo que não envie o texto para a Câmara novamente.
(Com AFP)