Oposição venezuelana rompe boicote e anuncia participação em eleições
Grupo liderado por Juan Guaidó afirma que as eleições não serão 'justas', mas podem ser um çampo de batalha útil'
Os principais partidos da oposição da Venezuela, agrupados na Plataforma Unitária e liderados por Juan Guaidó, informaram que vão participar das eleições regionais e municipais de novembro, mudando a estratégia de boicotes às votações recentes, que já dura três anos.
A decisão foi anunciada na última terça-feira, 31, dias antes da oposição e do presidente Nicolás Maduro se encontrarem, na Cidade do México, para negociar vias políticas possíveis para o futuro da Venezuela.
A Plataforma Unitária da Venezuela afirmou em nota que “as eleições não serão justas e convencionais. A ditadura impôs graves obstáculos que colocam em risco a expressão da mudança do povo venezuelano. No entanto, entendemos que será um campo de batalha útil para pressionar por eleições presidenciais e parlamentares.”
Os opositores também disseram aceitar o desafio em meio à “urgência em encontrar soluções permanentes” para o país, que enfrenta uma crise socioeconômica e humanitária.
Os oponentes rotulam Maduro de ditador e afirmam que ele fraudou sua reeleição em 2018 e viola constantemente os direitos humanos para reprimir dissidentes. Eles afirmaram também que os boicotes recentes aconteceram porque as eleições não teriam sido justas e nem livres.
Guaidó chegou a ser reconhecido como presidente interino por quase 60 países, entre eles Brasil, Estados Unidos e a maioria dos Estados-membros da União Europeia. Alguns chegaram a permitir que ele nomeasse embaixadores, ocupando instalações diplomáticas da Venezuela. Mas o opositor nunca assumiu de fato o poder no país, que segue nas mãos de Maduro e seus aliados chavistas.
A decisão de ir às urnas “complementa os esforços que estão sendo feitos no México”, onde o governo e a oposição iniciaram negociações “e estão visando uma solução pacífica e negociada”, ainda de acordo com o comunicado.
As próximas eleições regionais e municipais estão marcadas para 21 de novembro. Pouco depois do anúncio da oposição, o presidente Nicolás Maduro celebrou a postura, dizendo ser uma mudança em relação aos pedidos de sanções e intervenção militar.
“Peço aplausos para o G-4 (grupo dos quatro maiores partidos da oposição) e para seu anúncio, peço aplausos, porque é digno de aplaudir o gesto político de participar das eleições”, afirmou Maduro em um evento do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) transmitido pelo canal estatal “VTV”.
Para o governante, a soberania popular “se impôs mais uma vez e vai impor uma grande vitória em 21 de novembro”, porque “foi aberto um ciclo de estabilidade política que deve durar pelo menos até 2030”.
A crise política, econômica e social na Venezuela chegou ao extremo durante a pandemia, provocando a imigração de milhares de venezuelanos. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a Venezuela é o país do mundo que mais perdeu população nos últimos cinco anos.