Populista até a raiz do cabelo repartido acima da orelha para acobertar a calvície, o presidente da Belarus, Aleksandr Lukashenko, 65 anos, há 26 no poder, anunciou ter vencido de lavada a eleição de domingo 9, com mais de 80% dos votos. A principal adversária, a professora de inglês Svetlana Tikhanovskaya, 37 anos, que mobilizou multidões em comícios, teria tido meros 10%. Desta vez, porém, a descarada manipulação de resultados não foi engolida e a insatisfação popular, latente há meses, explodiu em todas as principais cidades da ex-república soviética. Na capital, Minsk, a polícia montou barreiras na frente dos prédios públicos, espancou e prendeu mais de 6 000 pessoas para tentar conter as manifestações. Tikhanovskaya refugiou-se na Lituânia, dando a entender que seus dois filhos estavam ameaçados. A mobilização foi estimulada pela grave crise econômica e pela ridícula resposta de Lukashenko à pandemia: não tomou nenhuma medida de isolamento — manteve, inclusive, o campeonato de futebol, onde jogam sete brasileiros — e recomendou vodca, sauna e “trabalho duro” contra o novo coronavírus. Fanfarrão e implacável, o último ditador da Europa, como é chamado, já disse que “a Alemanha atingiu seu ápice com Hitler” e que “é preferível ser ditador a ser gay”. Na campanha, afirmou que “a sociedade não está madura para votar em mulheres” e Tikhanovskaya, diante dos problemas do país, “ia desmaiar, coitadinha”. Agora está vendo que não é bem assim.
Publicado em VEJA de 19 de agosto de 2020, edição nº 2700