A pandemia da Covid-19 forçou os dois partidos políticos dos Estados Unidos a mudarem seus planos e alterarem o modelo das convenções onde os candidatos à Presidência são anunciados. Tradicionalmente, os eventos partidários dão início à campanha eleitoral com grande pompa e multidões, mas neste ano serão feitos quase inteiramente no ambiente virtual.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 5, que aceitará a nomeação do Partido Republicano a partir de um discurso que pode ser feito na Casa Branca, o que irritou a oposição, que o acusou de politizar a sede do governo. O ex-vice-presidente Joe Biden, por sua vez, irá receber a nomeação do Partido Democrata em um discurso feito em Delaware, seu estado natal, e não em Milwaukee, como inicialmente planejado.
Diante do aumento da disseminação do novo coronavírus no país, no entanto, os eventos que miram as eleições presidenciais de 3 de novembro tiveram que ser adaptados. Mais de 156.000 pessoas já morreram no país.
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Clique e AssineCitando a “pandemia crescente”, os organizadores da Convenção Nacional Democrata, que acontece de 17 a 20 de agosto, afirmaram que a decisão foi tomada “para proteger a saúde pública”. Em um evento para arrecadação de fundos, Biden afirmou que as restrições para presença de pessoas são parte das medidas de combate à Covid.
“Quero dar exemplo de como devemos responder individualmente à crise. A ciência importa”, afirmou.
Já Trump, cuja campanha para a reeleição enfrenta uma economia em profunda recessão, além da própria pandemia, anunciou que a decisão de transferir o discurso para a Casa Branca “é fácil” por não envolver deslocamentos. A transferência “é de longe o menos custoso para o país”, acrescentou, depois de apontar as vantagens “do ponto de vista da segurança”.
À rede FOX News, o republicano afirmou que a convenção de seu partido será virtual e terá discursos ao vivo feitos em locais diferentes. O discurso de Trump seria no último dia de um evento de massa da Convenção Nacional Republicana em Charlotte, Carolina do Norte, agendada para os dias 24 e 27 de agosto. O plano foi descartado, assim como o plano seguinte, de transferir o evento para o estado da Flórida.
Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, o presidente parece tentado a usar o “púlpito” privilegiado da Casa Branca.
A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, disse que Trump irá mais uma vez “degradar a Casa Branca” ao usá-la para um comício. O senador republicano John Ronson concordou, afirmando que o presidente “provavelmente não deveria fazer isto”.
Trump disse, contudo, que a decisão não foi tomada e que ele está disposto a mudar o lugar se houver alguma objeção.
“Se alguém tiver problemas com isso, eu poderei ir para outro lugar”, afirmou.
Nos Estados Unidos, os presidentes que tentam a reeleição devem separar seus eventos de campanha das atividades oficiais financiadas pelos contribuintes. Portanto, usar a icônica Casa Branca como cenário para o discurso de aceitação seria, no mínimo, um tanto questionável.
A pandemia, que torna impossível realizar comícios e viagens pelo país, priva Trump de uma de suas grandes forças: sua capacidade de galvanizar sua base eleitoral em grandes eventos de massa onde, para o deleite de seus apoiadores, ele faz ataques sem restrições.
(Com Reuters e AFP)