O papa Francisco aceitou nesta quinta-feira (13) a renúncia do americano Michael Bransfield, bispo da diocese de Wheeling-Charleston, no estado de Virgínia Ocidental, por ter encoberto casos de abuso sexual de menores cometidos pelo frade Stanley Gana. A decisão foi tomada em meio ao encontro do papa, no Vaticano, com a liderança da Igreja nos Estados Unidos para discutir um plano de ação para enfrentar a avalanche de escândalos envolvendo sacerdotes católicos no país.
A Igreja enfrenta essa questão delicada e suas consequências em diferentes órbitas. Um grupo de 5.000 diretores de empresas católicas bloqueou 820.000 dólares de contribuições à Santa Sé, à espera de esclarecimentos.
Em outra esfera, pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela rede de televisão CNN revelou um declínio o popularidade do papa nos Estados Unidos. Apenas metade dos americanos (48%) o apoia, contra 72% em 2013, primeiro ano de seu pontificado. Entre católicos americanos, a aprovação de Francisco caiu de 83%, há um ano e meio, para 63%.
Francisco recebeu o presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, cardeal Daniel DiNardo, seu vice-presidente, arcebispo José Horacio Gómez, e o secretário-geral da entidade, bispo Brian Bransfield, primo do religioso cuja renúncia foi aceita hoje. Também esteve presente o arcebispo de Boston, Sean O’Malley, presidente da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores e conselheiro de Francisco.
No final de agosto, o cardeal DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston, expressara seu desejo de se reunir com o papa para apresentar um “plano de ação” preparado pelos bispos americanos para “facilitar a denúncia de abusos ou má conduta por parte dos mesmo”.
DiNardo enfatizou com prudência que as alegações de Vigano reforçavam a necessidade de uma investigação “rápida e completa” das razões pelas quais “os graves erros morais de um bispo (McCarrick) foram tolerados por tanto tempo”.
11 de setembro católico
O abuso sexual de menores cometidos por membros do clero foi comparado a um “11 de setembro” da Igreja pelo monsenhor Georg Gänswein, secretário particular do papa emérito Bento XVI. Gänswein referiu-se às inúmeras vítimas “feridas tão gravemente e fatalmente” e comparou com os atentados terroristas de 2001 nos Estados Unidos, que deixaram quase 3.000 mortos.
Em agosto, a Procuradoria-geral do estado da Pensilvânia divulgou com detalhes um relatório sobre abusos sexuais a 1.000 pessoas cometidos por centenas de sacerdotes católicos. A liderança da Igreja, segundo a apuração dos promotores, teria encoberto por décadas os crimes. No mês anterior, o cardeal Theodore McCarrick, de Washington, renunciou depois de revelado que havia abusado um jovem de 16 anos.
No final de agosto, o ex-embaixador da Santa Sé em Washington, monsenhor Carlo Vigano, chegou a exigir a renúncia do papa ao acusá-lo de de encobrir o crime cometido pelo cardeal McCarrick por cinco anos. Vigano também acusou Francisco de ter ignorado as sanções (aparentemente confidenciais) contra McCarrick aplicadas por seu antecessor, o papa Bento XVI.
Na última terça-feira, um sacerdote da arquidiocese de Galveston-Houston foi preso depois de ser acusado de abusos sexuais. A vítima, hoje com 36 anos, teria sido abusada durante o ensino médio, entre 1998 e 2001.
Em comunicado, a arquidiocese também citou o caso de uma mulher que acusou o mesmo padre de assédio em 2001. Seus pais finalmente não denunciaram o caso à polícia. Depois de uma investigação interna, o padre retomou as suas funções em 2004.
Vítimas na Alemanha
Na Alemanha, a Igreja Católica na Alemanha admitiu na quarta-feira (12) ter um legado “deprimente e vergonhoso” de abuso sexual, depois do vazamento de um estudo sobre o abuso sexual de 3.677 crianças por 1.670 sacerdotes entre 1956 e 2014.
O documento foi encomendado pela Conferência Alemã de Bispos a três universidades, segundo a revista alemã Der Spiegel. O bispo de Trier, Stephan Ackermann, disse que a Igreja está ciente da extensão do abuso demonstrada pelos resultados do estudo.
“É deprimente e vergonhoso para nós”, disse Ackermann, em comunicado nesta quarta-feira.
De acordo com a Der Spiegel, as universidades examinaram 38 mil arquivos de 27 dioceses. O estudo concluiu que mais da metade das vítimas tinha 13 anos ou menos quando foram abusadas.
Um em cada seis dos casos documentados envolvia estupro, e três quartos das vítimas foram abusadas dentro de uma igreja e tinham relacionamento com o abusador. Em muitos casos, as evidências foram destruídas ou manipuladas, relatou a revista.