Papa garante que irá apontar os bispos católicos na China
Acordo entre o Vaticano e Pequim é criticado por dar às autoridades locais influência na escolha dos nomes a serem enviados a Roma
O papa Francisco defendeu nesta terça-feira (25) o polêmico acordo entre o Vaticano e a China, que envolve a indicação de bispos pelo governo de Pequim. Francisco insistiu que caberá a ele a palavra final sobre quem será nomeado.
Em seus primeiros comentários públicos sobre o acordo assinado com Pequim no último sábado, o papa disse a jornalistas entender que nem todo mundo compreenderá a lógica por trás do acordo. Mas se disse confiante na “grande fé” dos católicos chineses.
“Não é que o governo vá nomeá-los. É um diálogo. Mas o papa irá apontá-los. Que isso fique claro”, disse Francisco durante seu voo de retorno de sua visita aos países Bálticos.
O acordo estava em negociação havia mais de 10 anos e permite a retomada das relações diplomáticas entre os dois Estados, rompidas em 1951, quando o papa Pio XII excomungou dois bispos designados pelo governo chinês. Em represália, Pequim expulsou o núncio apostólico e deixou de reconhecer o papa como a liderança espiritual dos católicos.
Críticos do acordo o rotularam como uma concessão ao governo comunista. No futuro, novos bispos católicos serão sugeridos por membros de comunidades locais católicas juntamente com as autoridades chinesas. Os nomes, então, serão enviados ao Vaticano.
A China tem aproximadamente 12 milhões de católicos, divididos entre uma igreja secreta e leal ao Vaticano e a Associação Católica Patriótica, supervisionada pelo Estado. O Vaticano diz que a ausência de um acordo poderia levar a um cisma entre os católicos chineses, que seria difícil de ser superado.
“Eu penso na persistência dos católicos que sofreram. É verdade que eles vão sofrer. Há sempre sofrimento em um acordo, mas eles têm muita fé”, disse o papa.
Com o acordo, que ambos os lados dizem ser provisório, o governo chinês efetivamente reconhece o papa como o líder de todos os católicos da China. Muitos católicos chineses, porém, temem maior repressão caso o Vaticano ceda mais controle a Pequim.
O papa tentou aliviar os temores, dizendo que, “quando há um acordo de paz ou uma negociação, ambos os lados perdem alguma coisa (…) e seguiremos adiante”.
“Isso não foi improviso. É uma jornada, uma jornada real.”
(Com Reuters)