O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira, 27, no Vaticano, o líder indígena Raoni. De origem kayapó, o brasileiro iniciou em 12 de maio uma excursão de três semanas pela Europa para denunciar o aumento do desflorestamento no Brasil.
O cacique também aproveita a visibilidade internacional para tentar arrecadar 1 milhão de euros a serem destinados à proteção da reserva indígena do Xingu. Localizada na Amazônia, a reserva abriga vários povos indígenas e está ameaçada pelo avanço de madeireiros e do agronegócio.
Raoni Metuktire, cuja luta pela defesa da Amazônia brasileira foi apoiada internacionalmente por figuras como o cantor Sting, viaja acompanhado por outros três líderes indígenas que vivem no Xingu. O grupo já se reuniu com o presidente francês Emmanuel Macron e com o ministro do Meio Ambiente do país, François de Rugy.
“Com este encontro, o papa Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum”, explicou no domingo o porta-voz do papa, Alessandro Gisotti, sobre a reunião no Vaticano.
Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos, após a publicação em 2015 da encíclica “Laudato Si”, o papa convocou para outubro deste ano um sínodo sobre a Amazônia, a fim de proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta.
“A audiência com Raoni também faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-amazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema ‘Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'”, precisou Gisotti.
Em uma viagem feita ao Chile e ao Peru, em janeiro do ano passado, o pontífice afirmou que “provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios com o estão agora”. O líder religioso também disse, na ocasião, que “a defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida”.
A preocupação do papa com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, determinadas a defender sua identidade e seus costumes.
É a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas em favor do cuidado ambiental, inclusive nas paróquias.
A viagem de Raoni ocorre em meio a tensões com o presidente Jair Bolsonaro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas.
O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, próximo ao Papa, relator geral do Sínodo a ser realizado de 6 a 27 de outubro, reconheceu recentemente em Roma que a defesa da Amazônia gera muitas “resistências e incompreensões”.
“Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se impor com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normas de sustentabilidade e proteção da Amazônia”, explicou Hummes.
A igreja de Francisco também está empenhada em proteger “os esquecidos” da floresta amazônica: as populações mais pobres.
Antes do encontro com o papa, Rauni se reuniu com o presidente francês Emmanuel Macron e participou da tradicional festival de cinema de Cannes, no sul da França, onde também pediu apoio para o seu projeto.
A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário.
Este território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e 30-50% da fauna e flora do planeta.
(Com AFP)