Um ministro paquistanês chamou a temporada de monções no país de “distopia climática” e “catástrofe”, já que as mortes por inundações generalizadas no Paquistão passaram de 1.000 desde meados de junho.
Inundações repentinas, que se intensificaram nos últimos dias, varreram vilarejos, estradas, pontes, pessoas, gado e plantações em todas as quatro províncias do país. O Paquistão pediu auxílio internacional enquanto soldados e equipes de resgate levaram pessoas desabrigadas para campos de ajuda humanitária.
A autoridade de gestão de desastres do país disse no domingo 28 que o número de mortos pelas chuvas das monções chegou a 1.033, com 119 mortos nas 24 horas anteriores. As inundações deste ano foram comparáveis às de 2010 – as piores já registradas –, quando mais de 2.000 pessoas morreram e quase um quinto do país ficou submerso.
Sherry Rehman, senadora e ministra da mudança climática do Paquistão, disse que o país está passando por uma “grave catástrofe climática, uma das mais difíceis da década”.
“No momento, estamos no marco zero da linha de frente de eventos climáticos extremos, em uma implacável cascata de ondas de calor, incêndios florestais, inundações repentinas, várias explosões de lagos glaciais, eventos de inundação e agora a monção monstruosa da década está causando estragos em todo o país sem parar”, disse ela em um vídeo postado no Twitter.
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O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, pediu ajuda em uma visita à província do Baluchistão gravemente atingida. “Nunca vi tamanha enxurrada na minha vida pessoal e profissional. Todos os quatro cantos do Paquistão estão submersos. Peço às pessoas que venham e ajudem.”
A chuva começou em junho e uma monção anormal afetou mais de 33 milhões de pessoas – um em cada sete paquistaneses. Quase 300.000 casas foram destruídas, inúmeras estradas ficaram intransitáveis e o país sofreu com falta de eletricidade generalizada. A mídia local informou que pelo menos 83.000 animais morreram no sábado 27.
Sharif foi informado durante sua visita ao distrito de Jaffarabad, no Baluchistão, que pelo menos 75% da província – a menos desenvolvida do Paquistão e correspondente a metade de sua área terrestre – foi afetada pelas inundações.
O ministro das Relações Exteriores, Bilawal Bhutto Zardari, disse que o Paquistão precisa de ajuda financeira “esmagadora” para lidar com as inundações, dizendo esperar que instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional (FMI) levem em consideração as consequências econômicas.
“Eu não vi destruição dessa escala. Acho muito difícil colocar em palavras… É esmagador”, disse ele à agência de notícias Reuters, acrescentando que muitas plantações que forneciam grande parte do sustento da população foram exterminadas. “Obviamente, isso terá um efeito sobre a situação econômica geral.”
A nação do sul da Ásia já estava em crise econômica, enfrentando alta inflação, desvalorização da moeda e déficit em conta corrente.
A monção anual é essencial para irrigar plantações e reabastecer lagos e represas em todo o subcontinente indiano, mas também traz destruição. O rio Indo, que leva água do norte para sua segunda região mais populosa, está enfrentando uma grande inundação depois que chuvas recordes e o derretimento de geleiras incharam seus afluentes nas montanhas, muitos dos quais transbordaram.
A barragem de Sukkur, de 90 anos, que direciona as águas do Indo para um dos maiores sistemas de irrigação do mundo, agora é tudo o que existe entre as áreas a jusante e a catástrofe.
Autoridades dizem que o Paquistão está sofrendo injustamente as consequências de práticas ambientais irresponsáveis em outras partes do mundo. O país é o oitavo no índice global de risco climático da ONG Germanwatch, uma lista de países considerados mais vulneráveis ao clima extremo causado pela crise climática.
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O senador Mustafa Nawaz Khokhar disse que o Paquistão tem o maior número de geleiras fora da região polar e este ano, juntamente com a monção, o país testemunhou um derretimento sem precedentes de geleiras no norte devido ao aquecimento global.
“Em um caso histórico apresentado por um agricultor peruano contra uma empresa de serviços públicos alemã RWE pelo derretimento de geleiras no Peru, [cujo] resultado é aguardado ansiosamente por acadêmicos e especialistas jurídicos em todo o mundo, se houver uma abertura legal, o Paquistão também deveria seguir uma rota semelhante”, disse ele.
“É altamente injusto que um país que contribui com menos de 1% nas emissões globais esteja no lado receptor da catástrofe climática.”