Para driblar repressão de Maduro, jornalistas são substituídos por IA na Venezuela
Dupla de falsos âncoras é composta um homem, "El Pana" (gíria para "amigo", usada por venezuelanos), e uma mulher, "La Chama" ("a garota", em português)
Em meio à repressão do regime chavista, a organização colombiana Connectas adotou uma nova estratégia para proteger jornalistas: os dois âncoras que divulgam notícias sobre a Venezuela foram criados por inteligência artificial, de forma a preservar a identidade de repórteres.
A informação foi divulgada nesta terça-feira, 3, pela agência de notícias Reuters. A dupla é composta por um homem, chamado de “El Pana” (gíria para “amigo”, usada por venezuelanos), e uma mulher, apelidada de “La Chama” (“a garota”, em português).
A decisão por substituir jornalistas de carne e osso faz parte da “Operação Retweet”, que publica notícias em uma série de veículos de comunicação independentes na Venezuela.
O diretor da Connectas, Diego Huertas, disse à Reuters que a IA passou a ser “o ‘rosto’ das informações” porque repórteres que continuam as atividades no país agora “estão enfrentando muito mais riscos”.
Dados da ONG Repórteres Sem Fronteiras mostram que, ao todo, 10 profissionais de imprensa foram presos pelo governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, desde junho. Deles, oito permanecem detidos. Segundo Huertas, El Pana e La Chama são usados para “driblar a perseguição e a crescente repressão” no país. Além dos jornalistas, estima-se que mais de 2 mil pessoas já tenham sido detidas no cerco contra críticos ao chavista.
Ao menos 27 pessoas foram mortas desde as eleições, realizadas em 28 de julho. Na semana passada, o líder do partido antichavista Convergência Venezuela, Biagio Pilieri, foi preso depois de ser perseguido por “duas caminhonetes e três motocicletas”.
O advogado Perkins Rocha, um dos principais porta-vozes da oposição, também teria sido sequestrado na última terça-feira.
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Resultados contestados
Em 29 de julho, o Conselho Nacional Federal (CNE), órgão federal controlado pela ditadura, apontou a reeleição de Maduro com 51% dos votos, contra 44% de González, que substituiu María Corina, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista. Em contraste, sondagens de boca de urna e levantamentos independentes sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano.
Uma projeção da oposição com base em 80% dos boletins de urna que conseguiram obter mostrou resultado semelhante, incendiando protestos ao redor do país. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, por não ter publicado as atas das zonas eleitorais, que reúnem informações de cada centro de votação.