Parentes de 17 vítimas do desabamento da ponte sobre o rio Polcevera, em Gênova na terça-feira (14), recusaram o convite do governo da Itália para a realização de um funeral de Estado amanhã (18).
“Não queremos uma cerimônia que seja uma farsa”, escreveu nas redes sociais Roberto, pai de Giovanni Battiloro, um dos quatro jovens de Nápoles que morreram quando se dirigiam de carro para Barcelona para passar férias. “Meu filho não se transformará em um número na lista de mortes provocadas por uma falta de eficiência italiana”, acrescentou.
Para Nunzia, mãe de Gerardo Esposito, outro dos quatro amigos napolitanos, declarou que “o Estado causou isto”. “A visita de políticos foi vergonhosa”, queixou-se.
O governo italiano organizou para amanhã uma jornada de luto nacional em memória dos 38 mortos no desmoronamento da ponte, entre os quais três crianças. A cerimônia será realizada amanhã às 11h30 locais (6h30, em Brasília). Está prevista a presença do presidente da Itália, Sergio Mattarella, e dos presidentes da Câmara dos Deputados, Roberto Fico, e do Senado, Maria Elisabetta Casellati. O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, também deverá comparecer.
As famílias consideram a tragédia o resultado de negligência do governo. Os professores do Instituto Universitário Politécnico de Milão Carmelo Gentile e Antonello Ruoccolo, contratados pela pela concessionária Autostrade per l’Italia, apresentaram à empresa relatório no qual constatavam a deterioração da ponte em novembro de 2017.
Os especialistas advertiam sobre a deterioração de alguns materiais, como a oxidação de cabos, e recomendavam uma avaliação por parte da companhia sobre estes problemas.
Em outubro de 2017, o diretor da Autostrade em Gênova, Stefano Marigliani, tinha garantido aos vereadores e autoridades da região da Ligúria que, naquele momento, o viaduto não apresentava “nenhum problema estrutural”. Moradores dos edifícios residenciais próximos à ponte, porém, haviam apresentado suas preocupações com o estado da infraestrutura da ponte à empresa.
Na época, Marigliani garantiu que a Autostrade estava realizando uma série de trabalhos de manutenção e tinha previsto duas intervenções estruturais para 2018 para reforçar a infraestrutura. A companhia teria gasto 20 milhões de euros em obras. Depois da tragédia, Autostrade reconheceu que estava tratando do pavimento da ponte.
O governo italiano pediu a demissão dos diretores da Autostrade e iniciou um processo para revogar a concessão, que tem validade até 2038.
Estas tensões entre o Executivo italiano e a Autostrade fizeram com que as ações da Atlantia, sua controladora, caíssem na quinta-feira (16) mais de 22% na Bolsa de Milão.
(Com EFE)