Parlamento britânico será suspenso em meio à crise do Brexit
Na Irlanda, Boris Johnson suavizou seu discurso e afirmou que sair da UE sem acordo seria 'fracasso político'
O primeiro-ministro Boris Johnson suspenderá o Parlamento do Reino Unido nesta segunda-feira, 9, após a votação de uma proposta para a realização de eleições legislativas antecipadas, que provavelmente será rejeitada.
“O Parlamento será suspenso ao final da sessão de hoje e até 14 de outubro”, anunciou o porta-voz de Downing Street. A interrupção dos trabalhos da Câmara dos Comuns acontecerá independentemente do resultado da votação, garantiu o governo.
A decisão de suspender o Parlamento provocou uma onda de indignação no Reino Unido quando foi anunciada no final de agosto por Boris Johnson, acusado de realizar manobras para conduzir o país para um Brexit sem acordo em 31 de outubro.
O líder, que chegou ao poder no final de julho, justificou a suspensão pela necessidade de preparar e apresentar um novo programa de política doméstica.
Na semana passada, Johnson sofreu grandes derrotas com a aprovação pelo Parlamento de uma lei para prorrogar o prazo do Brexit se, até 19 de outubro, o governo não alcançar um pacto aceitável com Bruxelas ou receber a autorização do Parlamento para uma saída sem acordo.
Johnson expulsou do partido 21 rebeldes conservadores que votaram contra seu governo e perdeu a maioria parlamentar. Enfraquecido e obrigado a romper com sua grande promessa, o chefe de Governo propôs a antecipação das eleições para 15 de outubro, mas sofreu outra derrota.
O premiê, contudo, apresentou uma nova proposta para a antecipação das eleições, que será votada ainda hoje. Entretanto, é improvável que o Executivo obtenha a maioria de dois terços necessária para aprovar a medida.
Com a suspensão do Parlamento, os deputados só voltarão a se reunir em 14 de outubro, a menos de duas semanas para o prazo final de 31 de outubro.
A oposição teme que Johnson ignore a lei aprovada na semana passada com o apoio dos parlamentares conservadores rebeldes, forçando-o a buscar um adiamento de três meses do Brexit se não chegar a um acordo de saída até 19 de outubro.
Esta manhã, os líderes da oposição “concordaram em trabalhar juntos para fazer com que o governo se justifique perante o Parlamento”, declarou o porta-voz do líder trabalhista Jeremy Corbyn.
‘Fracasso político’
Em visita à Irlanda nesta segunda, Boris Johnson afirmou que uma saída do país do bloco sem um acordo entre os dois lados seria um “fracasso político”. O premiê, que até agora vinha defendendo a saída da UE no prazo com ou sem um acordo, suavizou seu discurso.
“Pelo bem dos negócios, dos agricultores e de milhões de pessoas comuns que contam conosco para usar nossa imaginação e criatividade para fazer isso, quero que você saiba que eu preferiria, esmagadoramente, encontrar um acordo”, disse Boris após se reunir com o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar.
Johnson ainda pediu à Bruxelas para eliminar do Tratado de Retirada o denominado “Backstop”, um mecanismo complexo para evitar uma nova fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte que ameace o frágil acordo de paz de 1998 que encerrou três décadas de conflito violento na ilha.
O Executivo britânico propõe a substituição por “ajustes alternativos”, mas de acordo com os sócios europeus ainda falta definir em que consistiriam as propostas.
“Se nos concentrarmos, acredito que podemos fazer um grande progresso”, afirmou Johnson em Dublin. “Apresentaremos ideais, temos tempo para fazer e vamos abordar com muito entusiasmo”, completou.
Já Leo Varadkar afirmou que a UE não recebeu até o momento nenhuma proposta “realista” de Londres. “Estamos abertos a alternativas, mas devem ser realistas (…) Não recebemos até o momento nenhuma proposta deste tipo”, disse em coletiva de imprensa.
(Com AFP)