O Partido Conservador britânico está imerso em grandes desacordos sobre as negociações do acordo do Brexit com a União Europeia. Faltam apenas 200 dias para a oficialização da saída do Reino Unido do bloco.
Os tories, como são conhecidos os conservadores no Reino Unido, estão há meses divididos sobre o Brexit, com uma parte deles claramente arrependida por ter apoiado a iniciativa. As negociações entre Londres e Bruxelas tornaram-se cada vez mais tensas, e o próprio governo de Theresa May foi atingido pela demissão dos ministros envolvidos nesse processo.
A retirada britânica do bloco europeu será efetivada em 29 de março de 2019. Não há sinais de Bruxelas sobre uma possível postergação e nem mesmo de um recuo na decisão tomada por Londres, com base no resultado de um plebiscito.
Os atritos na bancada conservadora aumentaram nos últimos dias, com a possibilidade de a primeira-ministra, Theresa May, ter sua liderança desafiada por um grupo de tories, entre os quais seu ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson.
Johnson, antigo prefeito de Londres, manifestou sua rejeição ao chamado plano de Chequers, que May elaborou com seus ministros em julho. A proposta prevê a criação de uma área de livre-comércio para bens após 29 de março de 2019, para evitar controles aduaneiros na fronteira entre a Irlanda – membro da União Europeia – e a Irlanda do Norte – parte do Reino Unido. No entendimento de Londres, as travas poderiam reacender o conflito entre as duas Irlandas – uma católica e a outra, protestante.
Para Johnson e outros parlamentares “eurocéticos”, o projeto de May é inaceitável. Eles estimam que, com a área de livre-comércio, o Reino Unido continuará ligado ao bloco europeu, e isso tornará mais difícil negociar acordos comerciais com países de fora da União Europeia
Uma porta-voz da residência oficial de Downing Street disse nesta segunda-feira que não há alternativa ao programa apresentado pelo Executivo.
“Chequers é o único plano sobre a mesa, que cumprirá com a vontade do povo britânico ao mesmo tempo em que evitará uma fronteira dura na Irlanda do Norte. A primeira-ministra trabalha duro para conseguir um acordo e espera que todos os deputados possam apoiá-lo”, acrescentou a porta-voz.
Em artigo no jornal The Mail on Sunday, Johnson acusou ontem a primeira-ministra de pôr um “colete suicida” à Constituição britânica na negociação com a União Europeia e de entregar o “detonador” desse imaginário explosivo ao principal negociador comunitário, Michel Barnier.
O descontentamento se aprofundou hoje depois que o ex-secretário de Estado para o Brexit, Steve Baker, advertiu haver até 80 deputados tories dispostos a votar contra o plano de Chequers.
A liderança de May pode ser desafiada se 15% dos deputados conservadores – 48 deles – enviarem cartas pedindo sua deposição ao chamado Comitê 1922, o influente grupo formado pelos tories na Câmara dos Comuns.
Segundo Baker, que renunciou em julho como secretário de Estado para o Brexit, o nível de oposição ao projeto de Chequers mostra que a primeira-ministra enfrenta um “grande problema” entre seus parlamentares.
No poder desde 2010, o Partido Conservador sofrerá uma “divisão catastrófica” se May seguir adiante com o plano. O texto foi negociado entre ela e seus ministros em reunião especial realizada em julho em sua residência campestre de Chequers, nos arredores de Londres.
“Estamos chegando agora a um ponto em que é extremamente difícil ver como podemos resgatar o Partido Conservador de uma divisão catastrófica e seguir adiante com a proposta de Chequers”, afirmou Baker.
“Eu observo o estado de ânimo dos colegas e do Partido Conservador no país, e estou gravemente preocupado com o futuro de nosso partido”, disse Johnson, que deixou claro que ele não pede uma mudança na liderança tory.
Espera-se que a proposta de May seja debatida no congresso anual dos conservadores, a ser realizado na cidade inglesa de Birmingham entre 30 de setembro e 3 de outubro.
(Com EFE)