Em um aparente sinal de apoio aos protestos que tomam há meses as ruas do Irã, os jogadores da seleção iraniana de futebol decidiram não cantar o hino nacional do país antes da partida contra a Inglaterra nesta segunda-feira, 21, pela fase de grupos da Copa do Mundo do Catar.
Todos os 11 jogadores ficaram em silêncio enquanto o hino foi tocado no Khalifa International Stadium. Alguns deles ainda abaixaram as cabeças, olhando para o chão.
As manifestações no Irã ocorrem desde setembro, quando a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, presa por supostamente violar o rígido código de vestimenta do país, despertou a revolta de milhares de iranianos, sobretudo as mulheres.
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Ao menos 58 crianças e adolescente foram mortos nos últimos dois meses, De acordo com a organização de ativistas de direitos humanos no Irã (HRA), desde o dia 16 de setembro, 46 meninos e 12 meninas menores de 18 anos perderam a vida no país.
Somente na última semana, cinco crianças foram vítimas das forças de segurança iranianas. Entre elas está Kian Pirfalak, de nove anos, uma das sete vítimas fatais da repressão na cidade de Izeh, no oeste do país, na quarta-feira, 16. Durante o funeral do garoto, parentes denunciaram que agentes abriram fogo contra o carro da família, onde Kian estava sentado ao lado de seu pai.
O caso foi citado em um comunicado da UNICEF que alerta para a situação no país. “No Irã, o UNICEF continua profundamente preocupado com relatos de crianças sendo mortas, feridas e detidas”, diz a nota. “Isso é assustador e deve parar”.
Além das mortes, o Irã já prendeu mais de 14.000 pessoas por ligações com os protestos. Autoridades pediram para o judiciário não mostrar clemência aos detidos, e uma pessoa foi oficialmente condenada à morte. Segundo organizações de direitos humanos, mais de 320 pessoas já foram mortas por conta das manifestações recentes. Este número, no entanto, pode ser ainda maior devido à falta de transparência do governo iraniano e à supressão da mídia e da internet no país.
Nesta segunda-feira, pouco antes do início da partida da Copa do Mundo, a mídia estatal iraniana relatou a prisão de duas atrizes proeminentes que expressaram solidariedade com o movimento de protesto do país e removeram seus lenços de cabeça em público. Hengameh Ghaziani e Katayoun Riahi foram ambas detidas após serem convocadas por promotores que investigavam suas postagens “provocativas” nas redes sociais, segundo a agência de notícias Irna.
Mais cedo neste mês, as Nações Unidas pediram ao governo para libertar imediatamente as milhares de pessoas que foram detidas por participarem de protestos pacíficos. O escritório de Direitos Humanos da organização internacional ordenou que todas as acusações contra iranianos presos em protestos sejam retiradas e advertiu que a pena capital só pode ser implementada em casos de “crimes mais graves” sob a lei internacional.