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Por que o mundo desconfia de uma vacina russa já em agosto

Governo de Vladimir Putin quer começar imunização de profissionais da saúde em 10 de agosto ou antes; especialistas temem que etapas tenham sido puladas

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2020, 13h26 - Publicado em 29 jul 2020, 12h23
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  • A Rússia tem planos de ser o primeiro país do mundo a aprovar uma vacina contra o novo coronavírus. De acordo com a emissora americana CNN, o governo de Vladimir Putin pretende lançar a imunização ainda em agosto. A comunidade médica, porém, traz sérias preocupações com a segurança e efetividade de uma vacina produzida tão rapidamente.

    As autoridades russas trabalham para lançar a imunização desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, com sede em Moscou, em 10 de agosto ou antes. Os profissionais da saúde devem ser os primeiros a receber, segundo o Ministério da Saúde.

    “É um momento de Sputnik”, disse Kirill Dmitriev, diretor do fundo soberano da Rússia, que financia a pesquisa de vacinas, referindo-se ao lançamento bem-sucedido em 1957 do primeiro satélite do mundo pela União Soviética. “Os americanos ficaram surpresos quando ouviram o bipe do Sputnik. O mesmo acontecerá com esta vacina. A Rússia chegará lá primeiro”, acrescentou.

    O clima de Guerra Fria pela vacina preocupa médicos e especialistas. Até agora, a Rússia não divulgou dados aprofundados sobre os testes realizados com a imunização, o que eleva os temores de que o país esteja pulando etapas importantes.

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    Críticos do governo temem que os cientistas russos estejam sendo pressionados pelo Kremlin a ganhar corrida pela vacina. A Rússia tem como um de seus principais projetos de política externa se projetar como grande potência global. Além de força militar, política e econômica, Putin deseja alavancar o país à excelência científica.

    A vacina russa

    Mais de 150 candidatas a vacina contra a Covid-19 estão em fase de desenvolvimento ao redor do mundo, com 23 delas no estágio de testes em humanos. A maior parte dos laboratórios, porém, alerta que ainda resta muito trabalho antes que as doses possam ser aprovadas.

    A Alemanha afirmou que acredita ser improvável que uma vacina esteja amplamente disponível no país antes de meados de 2021. O governo de Angela Merkel adota uma postura mais conservadora do que outras nações como os Estados Unidos, que previram a liberação da imunização em novembro.

    Diante das previsões mais realistas de outras nações, o projeto de Vladimir Putin de iniciar a aplicação de sua vacina em menos de duas semanas parece pouco viável. Enquanto algumas das vacinas desenvolvidas no resto do mundo estão na terceira fase dos testes, a versão russa ainda não concluiu a segunda fase. Os responsáveis pelos estudos planejam concluir a etapa atual até 3 de agosto e, em seguida, realizar a terceira fase dos testes em paralelo à vacinação dos profissionais da saúde.

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    Os cientistas russos por trás dos experimentos afirmam que o desenvolvimento da imunização caminha de forma acelerada porque é uma versão modificada de uma vacina já usada para combater outras doenças. O aproveitamento de doses utilizadas para outras enfermidades é uma tática adotada não só pelo Instituto Gamaleya, mas por uma série de países e empresas.

    A empresa farmacêutica americana Moderna, cuja vacina é apoiada pelo governo de Donald Trump, baseia seus experimentos nas principais descobertas feitas por cientistas quer buscam a imunização para o vírus da Mers. Embora a abordagem tenha acelerado o processo, as agências reguladoras dos Estados Unidos e Europa exigem que os testes sejam concluídos totalmente e de forma segura antes de sua aplicação na população.

    A vacina americana é a terceira a começar a fase 3 de testes em humanos. As duas primeiras foram a da Universidade Oxford, desenvolvida em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca, e o imunizante desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac Biontech. Ambos os testes estão em andamento no Brasil.

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