Premiê do Kosovo alerta sobre possibilidade de novo conflito com Sérvia
Chance de conflito entre kosovares e minorias étnicas sérvias virar confronto armado voltou a crescer no início do mês e gerou manifestações
O primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, afirmou nesta quarta-feira, 10, que seu país está preparado par enfrentar um possível ataque da Sérvia, em meio ao recente aumento de tensões na região.
A possibilidade de um conflito entre kosovares e minorias étnicas sérvias resultarem em um confronto armado voltou a crescer no início do mês, quando Pristina, capital do Kosovo, determinou a obrigatoriedade de placas do país em carros para cidadãos de etnia sérvia que vivem no norte. A minoria, que tem apoio de Belgrado, não reconhece as instituições do Kosovo, cuja independência foi conquistada em 2008.
Em resposta, manifestantes sérvios montaram bloqueios ao longo de rodovias no norte do país. A situação foi relativamente apaziguada depois que Kurti, sob pressão dos Estados Unidos e da União Europeia, concordou em adiar a regra até 1º de setembro.
Em entrevista à agência de notícias Reuters nesta quarta-feira, Kurti afirmou que “não devemos excluir que essas políticas agressivas de Belgrado também possam se transformar em um ataque contra Kosovo de uma forma ou de outra”.
“Não estou dizendo que eles vão nos atacar nesta semana ou na próxima, mas seria totalmente irresponsável excluir… a possibilidade de tensões crescentes e novos conflitos”, declarou.
A situação recente reavivou novamente a tensão envolvendo Kosovo, alinhado com o Ocidente e reconhecido por mais de 100 nações, Sérvia e Rússia, que não reconhecem a independência do país e bloquearam suas tentativas de ingressar nas Nações Unidas. Além da ONU, o governo kosovar demonstrou interesse também em fazer parte da Otan, o que incomodou ainda mais sérvios e russos.
Em meio às preocupações regionais, a Otan, que conta com cerca de quatro mil soldados no país, chegou a emitir um comunicado dizendo estar preparada para intervir militarmente caso a estabilidade política fosse comprometida.
Há um ano, um bloqueio semelhante aconteceu na mesma fronteira e fez com que Pristina enviasse forças especiais para conter os manifestantes. Em resposta, Belgrado utilizou caças para sobrevoar a região.
Os sérvios étnicos representam 5% dos 1,8 milhão de habitantes do Kosovo, que tem 90% de sua população de ascendência albanesa. Cerca de 50 mil destes sérvios vivem no norte do país, perto da fronteira com a Sérvia e os 40 mil restantes vivem mais ao sul, onde foi acatada a decisão do governo de uso de placas oficiais.
Apesar da recente conquista da independência, em 2008, Kurti reforçou que “temos nossas instituições e órgãos de segurança e defesa, Kosovo é um estado agora, este não é o ano de 1998″. A fala faz referência à guerra de 1998-1999 entre as forças de Belgrado e os separatistas kosovares, que deixou 13.000 vítimas, em sua maioria albaneses, e cerca de 1.860 pessoas desaparecidos.
“Estamos em 2022, então estamos muito mais preparados para defender nossa soberania, integridade territorial, defender nossa democracia , estado de direito, constitucionalidade e defender nosso progresso”, disse durante a entrevista.
Kurti e o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, devem se encontrar em Bruxelas em 18 de agosto. Os países estão publicamente comprometidos a resolver questões pendentes em diálogo mediado pela União Europeia.
Apesar da disposição ao diálogo, no entanto, ambas as nações já participaram de negociações envolvendo a UE em 2013, nas quais se comprometeram a buscar soluções para resolver conflitos pendentes, mas pouco progresso tem sido feito de lá para cá.