O atual premiê islandês, Bjarni Benediktsoon, se desfez de todos os seus ativos em um dos maiores bancos de investimentos da Islândia horas antes da bolha financeira no país explodir, em 2008. Antecipando-se à medida de emergência que permitiu o governo colocar as instituições financeiras sob seu controle, o então parlamentar fez negócios de mais de 1 milhão de euros (4,1 milhões de reais), segundo informou nesta sexta-feira o jornal The Guardian, que teve acesso a documentos vazados.
À época, Benediktsoon fazia parte do comitê econômico e fiscal do Parlamento islandês, e mantinha conversas com executivos do fundo de investimentos Glitnir, no qual detinha milhões em papéis. Parte de uma das famílias mais ricas e poderosas do país, o premiê, sugerem os documentos, mantinha uma “relação privilegiada” com o banco. O pai e um tio do político também venderam ativos dias antes do colapso financeiro do país, que fez com que o valor da moeda local, krona, caísse pela metade e as ações da bolsa despencassem 97%.
O premiê alega não ter cometido nenhum crime e que nenhuma investigação realizada pelas autoridades islandesas aponta irregularidades em sua conduta. A divulgação dos documentos acontece no momento que Benediktsoon se prepara para novas eleições, no dia 28 de outubro, agendadas devido ao colapso de sua coalizão. O governo é acusado de tentar ocultar um escândalo no qual o pai do primeiro-ministro escreveu uma carta pedindo que os registros criminais de um amigo, que cumpriu pena de cinco anos por pedofilia, fossem apagados.
Não é a primeira vez que Benediktsson está relacionado a fraudes financeiras. O nome do premiê apareceu no escândalo Panama Papers em documentos que o ligavam a uma empresa da ilha de Seychelles. Mais de 170 pessoas e empresas islandesas foram citadas nos papéis – entre eles, Sigmundur Gunnlaugsson, ex-primeiro-ministro do país. Ele foi forçado a renunciar após protestos populares em decorrência da revelação de contas ligadas a ele e familiares em paraísos fiscais.