O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fará um raro discurso no horário nobre na noite desta quinta-feira, 1, a respeito da democracia no país. De acordo com autoridades do governo, o tom usado por Biden será mais grave e sombrio do que de costume e irá abordar o “semifacismo” visto em grupos ligados ao ex-presidente Donald Trump.
Funcionários da Casa Branca dizem que o atual presidente definiu que essa é a hora certa de um acerto de contas sério e sóbrio sobre o que ele considera forças antidemocráticas crescentes em todo o país.
+ EUA: mais de 40% da população prevê guerra civil dentro de uma década
Esse, de fato, é um tema que vem recebendo mais atenção de Biden nos últimos meses. Depois de inicialmente tentar ignorar os efeitos posteriores de seu antecessor e se concentrar na unidade nacional, o foco agora é na “batalha contínua pela alma da nação”, que representa o mesmo tema que definiu o lançamento de sua campanha presidencial em 2019, quando ele se propôs a frustar a tentativa de reeleição de Trump.
O discurso servirá também como um reconhecimento implícito de que os esforços do atual governo para superar a divisão e o caos instaurados pelo ex-presidente foram mais difíceis do que se imaginava. A figura de Trump, inclusive, continua a dominar as manchetes nos Estados Unidos, principalmente depois que agentes federais revistaram sua mansão na Flórida, revelando uma investigação federal sobre a posse de documentos confidenciais.
“Do jeito que ele vê, os republicanos extremistas são a parte mais energizada do Partido Republicano. Esta é uma ameaça extrema à nossa democracia, à nossa liberdade, aos nossos direitos. Eles simplesmente não respeitam o estado de direito”, disse a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, na quarta-feira.
O presidente americano tem planejado um discurso como esse há meses e acredita que agora é uma boa hora devido ao avanço das investigações sobre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Além disso, as ações recentes dos extremistas, como a tentativa de ataque a um escritório do FBI em Ohio deixaram Biden indignado.
“Este é um discurso no qual o presidente vem pensando há muito tempo. Ele está trabalhando nele há algum tempo. Não é uma resposta a nenhuma notícia do dia. É uma resposta ao que ele vê como um momento neste país”, disse funcionário do alto escalão do governo à rede CNN.
+ O novo alvo de Trump para as eleições de novembro nos EUA
A escolha de discursar em horário nobre também mostra a importância que Biden dá ao tema. Desde que chegou à Presidência, foram raras as vezes em que ele falou à nação nesta faixa horária. Seus assessores acreditam que uma fala direta e séria sobre a questão da democracia pode impedir que o assunto fique retornando de tempos em tempos nos holofotes, principalmente em um período próximo das eleições de meio de mandato.
Especialistas apontam que a mudança de postura teve início em janeiro deste ano, quando Biden atacou diretamente a Trump no discurso que marcava um ano dos atos no Capitólio. Na época, não ficou claro se o presidente adotaria essa mudança de maneira definitiva contra o ex-líder do Partido Republicano e, até recentemente, as críticas não aconteciam com frequência até as últimas semanas.
“Os republicanos extremistas não apenas ameaçam nossos direitos pessoais e segurança econômica, eles são uma ameaça à nossa própria democracia. Eles se recusam a aceitar a vontade do povo. Eles abraçam a violência política. Eles não acreditam na democracia”, disse ele na semana passada em um comício democrata em Maryland.
Segundo fontes próximas ao presidente, ouvidas pela CNN, há um grande incômodo quando ele vê figuras consolidadas do Partido Republicano se aproximando das retóricas de Trump, o que o levou a acusar os seguidores do ex-presidente de “semi-fascistas”, em um evento na última semana.
A fala de Biden trouxe uma resposta rápida de outros políticos republicanos, que se mostraram incomodados. No entanto, os assessores da Casa Branca reiteram que o discurso desta quinta deixará claro que as críticas do líder democrata são apenas aos seguidores de Trump, e não a todo o Partido Republicano.
A ameaça à democracia tem sido um fator de preocupação para a população americana. Uma pesquisa feita pela rede NBC em agosto apontou que “ameaças à democracia” subiram para o primeiro lugar no ranking de preocupação do país, superando o “custo de vida”.
+ Terceira via nos EUA? Eleitores não querem nem Trump, nem Biden em 2024
Outra pesquisa feita pela Universidade Quinnipiac mostrou que 67% dos entrevistados acham que a democracia americana está em perigo ou colapso, um aumento de 9 pontos em relação a janeiro.